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Re: Curiosidade
On Sun, 14 May 2000, bene@digi.com.br wrote:
> Curiosidades:
>
> 1) No plano, existem 3 vezes mais triângulos obtusos do que triângulos
> acutângulo!!
>
> O matemático canadense, Richard K. Guy (já falecido, se não me
> engano) provou este fato em 1963 (Ver Mathematics Magazine, junho, pg. 175).
>
> Alguém conhece uma outra demonstração?
>
> 2) No artigo citado, Richard K. Guy menciona um problema interessante
> colocado em 1893 por Lewis Carroll (pseudônimo do pastor inglês Charles
> Lutwidge Dogson (1832-1898), autor de "Alice no País das Maravilhas"):
> "Se três pontos são escolhidos aleatoriamente, qual é a probabilidade
> desses pontos serem vértices de um triângulo obtusângulo?"
> Alguëm se habilita? Em tempo: resposta (3pi/8pi-6pi(3)^1/2
Acho que estes dois problemas estão formulados de forma incompleta.
O que significa tomar três pontos "aleatoriamente" no plano?
Para dar sentido a esta expressão, é preciso dizer que probabilidade
é associada aos eventos fundamentais: isto é o que se chama
dar a medida de probabilidade do problema.
Qual é, por exemplo, a probabilidade de que um ponto do plano escolhido
ao acaso esteja no quadrado [0,1]x[0,1]?
Note que em muitos problemas de probabilidade existe uma única medida
possível, ou pelo menos existe uma medida "natural", "óbvia pelo contexto".
Por exemplo, se eu digo: "Jogamos três dados, qual a probabilidade de que
a soma dos pontos seja um número primo?" está implícito que são três
dados de seis faces numeradas 1, 2, 3, 4, 5, 6; que as 6 faces são
equiprováveis; que os três dados são independentes.
Já no caso da sua pergunta, não acho nada óbvio qual seja a medida
de probabilidade envolvida.
No meu artigo da Eureka 1, "Como perder amigos e enganar pessoas",
(disponível também em
http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/papers/bom.tar.gz
http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/papers/bom.ps.gz
leia as explicações do que fazer com estes arquivos na home page)
eu discuto 4 problemas enganosos de probabilidade.
O 4o tem tudo a ver com esta questão de medidas de probabilidades
não tão óbvias. Eu transcrevo:
4. Aqui novamente devemos nos imaginar em um programa
de auditório. Eugênio foi sorteado e tem direito a um prêmio
mas ele deve escolher entre dois envelopes lacrados aparentemente iguais.
O apresentador informa que cada envelope tem um cheque e que o valor
de um cheque é o dobro do outro, mas não diz nada sobre o valor dos cheques
nem indica qual envelope contem o cheque de maior valor.
Eugênio escolhe e abre um envelope
que contem um cheque de, digamos, R$ 100.
Neste momento o apresentador sempre faz uma proposta ao convidado:
ele pode trocar de envelope mediante uma ``multa'' de 5%
do valor do cheque que ele tem em mãos---no caso, R$ 5.
Assim, se Eugênio aceitar ele pode ganhar R$ 45
(se o cheque no segundo envelope for de R$ 50)
ou R$ 195 (se o outro cheque for de R$ 200).
Suponhamos que Eugênio
(que fez um curso de Introdução à Probabilidade no período anterior)
queira maximizar o valor esperado de seu prêmio: deve ele aceitar a troca?
E se o valor do primeiro cheque tivesse sido outro,
de que forma deveria isto influenciar a decisão de Eugênio?
Se Eugênio trocar de envelope independentemente do valor do cheque
não vale mais a pena para ele trocar de envelope antes de abrir,
evitando assim a multa?
Sugiro que pensem no problema antes de ler o resto do artigo.
[]s, N.