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Módulos

Nesta seção $q\not=\pm 1$, de modo que 1/(q-q-1) está bem definido. Isto será aproveitado na definição

\begin{displaymath}[n]_q=\frac{q^n-q^{-n}}{q-q^{-1}}=q^{n-1}+
q^{n-3}+\cdots +q^{-n+3}+q^{-n+1}.\end{displaymath}

Estes elementos aparecem substituindo inteiros em fórmulas nos módulos de $\mathcal{ U}_q(sl_2)$. Os ``fatoriais'' e ``coeficientes binomiais'' que surgem são definidos por

\begin{displaymath}[n]_q!=[1]_q.[2]_q.\cdots ,[n]_q,
\qquad \binom{n}{k}_q=\frac{[n]_q!}{[k]_q!
[n-k]_q!}.\end{displaymath}

Valem

\begin{displaymath}[-n]_q=-[n]_q,\qquad [n+m]_q=q^n[m]+q^{-m}[n].\end{displaymath}

Se q não for raiz da unidade então $[n]_q\not= 0$.

O objetivo agora é quantizar o que foi feito em 1. de I.5 para representações de sl2. Os módulos simples de dimensão finita de $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ são também ``módulos de peso máximo'', mas agora os vetores de peso máximo são autovetores de K. Especificamente, se V for um módulo sobre $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ então se

\begin{displaymath}Kv=\lambda v\qquad {\rm para}\qquad
v\not= 0\end{displaymath}

$\lambda$ é chamado de peso, e para $\lambda$ um peso o autoespaço de K associado a $\lambda$ é denotado $V^\lambda$. Valem

\begin{displaymath}EV^\lambda\subset V^{q^2\lambda}\qquad
{\rm e}\qquad FV^\lambda\subset V^{q^{-2}\lambda}.\end{displaymath}

Se $v\in V^\lambda\setminus \{0\}$ for tal que Ev=0 então v é dito vetor de peso máximo. Um módulo de peso máximo é um módulo gerado por um vetor de peso máximo.

Sob a hipótese $k={\bf C}$ todo módulo de dimensão finita tem um vetor de peso máximo. A demosntração segue os passos da apresentada para o caso clássico.

Valem as seguintes relações análogas às clássicas encontradas em 1. de (I.4), para um vetor de peso máximo V de peso $\lambda$:

\begin{displaymath}K\frac{F^iv}{[i]_q!}=\lambda q^{-2i}
\frac{F^iv}{[i]_q!},\end{displaymath}


\begin{displaymath}E\frac{F^iv}{[i]_q!}=\frac{q^{-(i-1)}\lambda -q^{i-1}
\lambda^{-1}}{q-q^{-1}}
\frac{F^{i-1}v}{[i-1]_q!},\end{displaymath}

e

\begin{displaymath}F\frac{F^{i-1}v}{[i-1]_q!}=[i]_q
\frac{F^iv}{[i]_q!}.\end{displaymath}

Assim, $\{ \frac{F^iv}{[i]_q!}\}$ é uma sequência de autovetores de K com autovalores distintos e, novamente, deve existir um maior inteiro i para o qual $\frac{F^iv}{[i]_q!}$ não seja nulo. De fato, pelas relações acima

\begin{displaymath}0=E
\frac{F^{i+1}v}{{i+1}!}=
\frac{q^{-i}\lambda -q^i
\lambda^{-1}}{q-q^{-1}}
\frac{F^iv}{[i]_q!},\end{displaymath}

e logo $\lambda =\pm q^i$. Como no caso clássico segue que se o módulo for simples então é módulo de peso máximo de dimensão i+1, e estes módulos são denotados por $V_{\pm, i}$, onde o sinal é dado por $\lambda =\pm q^i$. Também $\{ \frac{F^jv}{[j]_q!}\}_{i=0,\ldots ,i}$ é base de $V_{\pm, i}$, e a ação de K é diagonal com i+1 autovalores distintos $\pm q^i,\pm q^{i-2},\ldots ,\pm q^{-i+2},
\pm q^i$ (com sinais combinando: ou todos + ou todos -). Quaisquer dois vetores de peso máximo diferem por uma constante multiplicativa. Finalmente, qualquer módulo simples de dimensão finita sobre $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ é um módulo de peso máximo, e dois destes não são isomorfos. Assim, para cada dimensão i existem exatamente dois módulos simples sobre $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ não isomorfos V+,i-1 e V-,i-1.

Para um escalar $\lambda$ qualquer (não da forma $\lambda =\pm q^i$), as seguintes relações impostas sobre o espaço vetorial $V(\lambda)$ de dimensão infinita com base enumerável $\{ v_j\}_{j\in {\bf N}}$

\begin{displaymath}Kv_j=\lambda q^{-2j}v_j,\end{displaymath}


\begin{displaymath}Ev_j=\frac{q^{-(i-1)}\lambda -q^{i-1}
\lambda^{-1}}{q-q^{-1}}v_{j-1},\end{displaymath}

e

Fvj-1=[i]qvj

dotam $V(\lambda)$ da estrutura de um módulo sobre $\mathcal{ U}_q(sl_2)$, onde v0 é vetor de peso máximo. Estes módulos são ditos módulos de Verma e são universais no sentido de que todo módulo de peso màximo V sobre $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ com peso máximo $\lambda$ é quociente de $V(\lambda)$.

O comutador de K em $\mathcal{ U}_q(sl_2)$, denotado por $\mathcal{ U}_q(sl_2)_K$ é o conjunto de elementos de $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ que comutam com K. Como a conjugação por K atua na base de $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ por

K(FiKlEj)K-1=q2(j-i)FiKlEj,

vale que

\begin{displaymath}\mathcal{ U}_q(sl_2)_K=\sum_{i\in {\bf N}}
F^iP_i(K,K^{-1})E^i,\end{displaymath}

onde $P_i\in k[T,T^{-1}]$. o ideal à esquerda cal I de $\mathcal{ U}_q(sl_2)_K$ gerado por E,

\begin{displaymath}\mathcal{ I}=\mathcal{ U}^+\cap
\mathcal{ U}_q(sl_2)_K,\end{displaymath}

é dado também por

\begin{displaymath}\mathcal{ I}=\mathcal{ U}^+\cap
\mathcal{ U}_q(sl_2)_K,\end{displaymath}

e vale

\begin{displaymath}\mathcal{ U}_q(sl_2)_K=
k[K,K^{-1}]\oplus \mathcal{ I}.\end{displaymath}

Isto se vê diretamente.

Assim $\mathcal{ I}$ é um ideal bilateral de $\mathcal{ U}_q(sl_2)_K$ e a projeção

\begin{displaymath}\varphi:\mathcal{ U}_q(sl_2)_K\longrightarrow
l[K,K^{-1}]\end{displaymath}

é um morfismo em ${\bf Alg}_k$ dito o homomorfismo de Harish-Chandra.

Se V for módulo de peso máximo de $\mathcal{ U}_q(sl_2)$ com peso máximo $\lambda$ então para todo elemento central $z\in Z(\mathcal{ U}_q(sl_2))$ e todo $v\in V$ vale

\begin{displaymath}zv=\varphi(z)(\lambda)v.\end{displaymath}

De fato, z pode ser escrito

\begin{displaymath}z=\varphi(z)+\sum_{i\in {\bf N}^+}
F^iP_iE^i.\end{displaymath}

Se v0 for o vetor de peso máximo então Ev0=0, e como $Kv_0=\lambda v_0$ vale $zv_0=\varphi(z)(\lambda)v_0$. Mas $V(\lambda)$ é gerado por v0, e logo para todo $v=uv_0\in V(\lambda)$ com $u\in \mathcal{ U}_q(sl_2)$ vale

\begin{displaymath}zv=zuv_0=uzv_0=\varphi(\lambda)uv_0=
\varphi(\lambda)v.\end{displaymath}

Em particular, o elemento de Casimir quântico age por multiplicação pelo escalar

\begin{displaymath}\frac{q\lambda+q^{-1}k^{-1}}{(q-q^{-1})^2}.\end{displaymath}

A restrição de homomorfismo de Harish-Chandra $\varphi$ ao centro $Z(\mathcal{ U}_q(sl_2))$ é injetiva, já que se $z\in Z(\mathcal{ U}_q(sl_2))$ é não nulo e satisfaz $\varphi(z)=0$ é possível escrever

\begin{displaymath}z=\sum_{0<i\le l}F^iP_iE^i.\end{displaymath}

Tomando um módulo de Verma $V(\lambda)$ com $\lambda\not= q^r$ para nenhum r, então Evi=0 só para i=0, e aplicando z em vi vale que

\begin{displaymath}zv_i=\varphi(z)(\lambda)v_i=0,\end{displaymath}

por um lado, e por outro,

\begin{displaymath}zv_i=F^IP_iE^iv_i=cP_i(\lambda)v_i\end{displaymath}

para $c\not= 0$. Segue que $P_i(\lambda)=0$ e haveria um polinômio com infinitas raízes, um absurdo.
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Nicolau C. Saldanha
1999-08-10