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[obm-l] Fwd: Fabrício sem Avião (Jornal O Povo de hoje)
Date: Tue, 12 Aug 2003 08:43:34
-0300 (ART)
From: Paulo Rodrigues <pjbgr@yahoo.com.br>
Subject: Fabrício sem Avião (Jornal O Povo de hoje)
To: obm@impa.br
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Orgulho cearense nas olimpíadas
Fábio Campos
[12 Agosto 02h44min]
É com imenso orgulho que assistimos o desempenho de estudantes cearenses
em competições científicas internacionais. A edição de ontem do O
POVO mostrou o caso de Haroldo Heitor Ribeiro Filho, 17, que
ganhou a medalha de prata na Olimpíada Internacional de Química. Para
conquistar o segundo lugar, Haroldo teve que ser melhor que outros 271
estudantes de todo planeta que brigaram por um lugar no pódio. Antes,
cada um deles ainda teve que disputar duras seletivas em seus países de
origem. Além de Haroldo, outros três estudantes cearenses conseguiram se
classificar para Antenas 2003. Ano passado, Yuri Morais, outro cearense,
já havia trazido medalha da mesma competição, que teve vez na Holanda.
Nenhum deles é de escola pública. São os melhores alunos dos melhores
colégios de Fortaleza. Depois da aprovação nas seletivas, é preciso
levantar o financiamento para passagens e estadias. É aí que entra a
capacidade de articulação dos colégios privados. Elas articulam, e bem,
mas quem pagou a conta, e com prazer, é o contribuinte através da Funcap
e CNPq. Coisa de R$ 8 mil por ''atleta''.
O MÉRITO DE FABRÍCIO SEM AVIÃO
Fazer este tipo de articulação virou um excelente negócio para os
colégios da Aldeota. É a chance de estampar nos jornais o aluno campeão.
E sem custos. Quando conseguem classificar um aluno numa dessas disputas,
os colégios privados sabem que ganham prestígio, respeito e, no fim das
contas, muito mais matrículas num dos ramos empresariais de maior
concorrência na cidade. Os colégios fazem com mestria o que, por exemplo,
a Universidade Federal do Ceará (UFC) não consegue fazer. Estudante da
Graduação em Ciências da Computação da UFC, Fabrício Siqueira Benevides
não teve a mesma fortuna dos colegas ''atletas'' do segundo grau. Ele foi
o ÚNICO universitário cearense e nordestino a passar nas
seletivas que davam o passaporte para compor a equipe verde a amarela nas
Olimpíadas Universitárias Internacionais de Matemática. Só que a disputa
já aconteceu entre os dias 25 e 30 de julho, mas Fabrício não foi. Não
foi, creiam, porque não conseguiu as prosaicas passagens aéreas para
Bucarest, na Romênia.
COMO CRUCIFICAR UM JOVEM CIENTISTA
Fabrício é tido como um brilhante aluno da UFC. Já é experiente em
Olimpíadas. Ano passado, ganhou a medalha de prata nas olimpíadas
universitárias nacionais. Foi muito mais fácil conquistar a medalha e
ultrapassar as acirradas seletivas para Bucarest que conseguir um reles
financiamento para pegar um avião. Em maio, quando foi oficialmente
selecionado, de posse de uma carta da Presidente da Sociedade Brasileira
de Matemática, Suely Druck, Fabrício procurou a Coordenação da Graduação
na UFC. Começou aí uma terrível via-crucis. Sem sucesso, o jeito foi
procurar a Reitoria. Não passou da ante-sala do novo reitor. A Secretaria
de Ciência e Tecnologia do Ceará fez ouvidos de mercador. Detalhe: a
Funcap, que é vinculada à Secitece, foi quem ajudou os estudantes das
escolas privadas a viajarem para Antenas. O calvário continuou na
pró-reitoria de Planejamento da UFC. Por fim, resolveu apelar para a
Sociedade Brasileira de Matemática e junto à organização da Olimpiada
Brasileira de Matemática. Fabrício não conseguiu sair de Fortaleza. Na
época, as passagens custavam U$ 1.600,00.
A UFC QUE NÃO É DOS ESPERTALHÕES
Quem teve a oportunidade de ler a edição de julho do Jornal da Ciência,
produzido pela SBPC, viu estampado o orgulho da Universidade Federal de
Santa Catarina em enviar um seu aluno que se classificou para Bucarest.
Aqui, a UFC saiu de fininho. Agiu burocraticamente e fez de conta que não
tinha nada a ver com o caso. Perdeu a rara oportunidade de chamar a
atenção da sociedade para o que há de bom por lá. Afinal, a UFC não é
feita apenas de uma elite que usou de lamentáveis subterfúgios para
compor a lista dos grandes marajás da aposentadoria nacional. Tem muita
coisa boa na UFC, o problema é que ela não sabe mostrar. Pior, esconde.
Pior ainda, contribui dolorosamente para que um de seus melhores alunos
tenha fartos motivos para acreditar que não vale a pena mergulhar nos
estudos. Fabrício tem hoje todos os motivos para acreditar que precisa
carregar influência politiqueira a tiracolo se quiser convencer as
instituições públicas ligadas à ciência a cumprirem o papel que define
suas existências. Coisa de terra de mercadores. Se Fabrício fosse aluno
de uma das universidades privadas hoje garbosamente instaladas em
Fortaleza certamente teria ido a Bucarest. Certamente teria seu rosto
estampado num belo anúncio publicitário. Alguém duvida?
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