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Re: Complexos, de novo...



1) "Como deduzir esta expressao...?"
"Deduzir" significa justificar a partir de certos pressupostos. Ha varios caminhos, dependendo dos seus pressupostos, e dependendo da sua definicao de e^z, onde z eh um complexo.
Um caminho eh definir diretamente e^z pela serie "Soma de 0 a infinito de z^n / n! " (repare que isto eh uma extensao da serie de Taylor para e^z, quando z eh real).
Naturalmente, isto significa o limite, quando n tende a infinito, desta soma de 0 a n, e supoe portanto um conceito de convergencia nos complexos (que alias eh facil: basta raciocinar com a convergencia em separado das partes real e imaginaria), e supoe que esta serie em particular convirja, o que eh verdade para qualquer z complexo (mas tem que ser provado, eh claro).
Se voce agora, fizer z=it, onde t eh real, voce terah: e^(it) = Soma de 0 a infinito de i^n t^n / n!.
Levando em conta os valores conhecidos das potencias de i, e separando parte real e imaginaria (atencao! aqui se trata de uma "soma infinita"; por isto esta passagem nao eh trivial! exige uma justificativa a parte, relacionada com a "convergencia absoluta" da serie), voce obterah:
e^(it) = 1+ t^2 / 2! + t^4 / 4! + ... + i (t + t^3 / 3! + t^5 / 5!+ ...) = cos t + i sen t
 
2) A questao de se toda funcao periodica pode ser expressa em termos de seno e cosseno eh uma das mais interessantes da historia de matematica. [Primeiro um detalhe tecnico; por uma mudanca de variavel simples, voce pode sempre supor que o periodo eh 2 pi]. Fourier (mais ou menos em 1860) foi o primeiro a afirmar que qualquer funcao periodica de periodo 2 pi podia ser aproximada por uma combinacao linear de senos e cossenos de argumentos t, 2t, ..., nt, ... Esta aproximacao podia se traduzir por uma serie infinita, que hoje se chama Serie de Fourier (consulte qualquer livro de Calculo Avancado). So que, aos poucos, se constatou que: i) isto nao valia para "qualquer funcao periodica"; na epoca, o conceito de funcao ainda nao era claro como eh hoje, e esta historia serviu para clarear o conceito; ii) mesmo para funcoes super camaradas, esta igualdade nao se dava em todos os pontos, mas "em quase todos os pontos"; isto serviu para esclarecer os conceitos de integral e de medida, e estimulou as ideias de Cantor. A questao so foi inteiramente resolvida no inicio do seculo XX, com Lebesgue e Hilbert.
 
JP
 
 
 
----- Original Message -----
Sent: Tuesday, July 10, 2001 12:24 AM
Subject: Complexos, de novo...

Olá...
 
    Estava lendo o "The Feynman's Fectures on Physics" e lá no Capítulo 22 ele, o Feynman, usando uma tabela de logaritmos na base 10, acaba descobrindo o log decimal de i. Até aí, acho que não é tão esquisito o processo que ele usou (meio comprido pra explicar aqui). Bem, mas depois, com o log de i, ele calcula um monte de exponenciais de complexos (10^(ip/8), com o p variando). Com isso, ele monta uma tabela e, com ela, dá pra ver que os resultados oscilam realmente entre 1 e -1 tanto na parte real quanto na imaginária, e quando uma está perto de 1 ou -1 a outra se aproxima de 0.
Agora o esquisito: logo depois de mostrar a tabela e falar que as exponenciais de complexos parecem periódicas, ele já manda:
 
e^(it)= [cos (t)] + i.sen(t)
 
Não duvido nem um pouco que este resultado esteja errado. E nem quero que esteja, porque ele é uma imensa "mão na roda" pra resolver toneladas de problemas físicos. Mas esse método que ele usou foi MUITO CHUTADO!!
 
Como deduzir esta relação sem ser com calculadora? A impressão que dá é que toda função que se repete pode ser expressa por meio de seno e cia.. Será que é isso? Será que toda função periódica tem que ser expressa por uma das funções trigonométricas??
 
Valeu!
Bruno