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O método das matrizes de Kasteleyn, exposto na seção anterior,
permite demonstrar vários resultados de contagem ou q-contagem
de coberturas de lozangos ou dominós. Selecionamos para serem
enunciados três resultados clássicos deste tipo,
devidos a MacMahon [M], Kasteleyn [K] e
Elkies, Kuperberg, Larsen e Propp [EKLP].
Teorema 1.15: [K]
Considere o retângulo de lados inteiros a e b;
seja N o número de coberturas por dominós deste retângulo.
Sejam
e
Então
Para o próximo teorema, definimos o diamante asteca de lado ncomo sendo a união dos quadrados unitários inteiros
para os quais
- n - 2 < i+j < n;
a figura mostra o diamante asteca de lado 3.
Teorema 1.16: [EKLP]
Considere o diamante asteca de lado n.
Temos
As demonstrações destes dois teoremas serão omitidas;
diga-se apenas que eles admitem demonstrações por um método
razoavelmente semelhante ao que usaremos para o Teorema 1.17.
Este método é conhecido como matrizes de transferência
(transfer matrices).
Teorema 1.17: [M]
Considere o hexágono de lados inteiros
a, b, c, a, b, ccom todos os ângulos internos iguais a .
Então
onde T varia sobre todas as coberturas por lozangos unitários do hexágono.
A figura mostra um hexágono de lados 2, 2, 2.
Lembramos que a interpretação tridimensional
diz que estas coberturas podem ser interpretadas como pilhas de cubos.
Dem:
Supomos que a é o tamanho do lado vertical e
b é o tamanho do lado seguinte (no sentido anti-horário).
Pelo que vimos nas seções anteriores,
temos
onde B é definida por
sendo que o sinal e o fator
estão presentes
para corrigir o valor do monômio correspondente
à cobertura de altura zero.
Os índices para os vértices podem parecer estranhos mas foram
escolhidos de tal forma que se i > a então os vizinhos do vértice
branco i todos têm índices maiores ou iguais a i.
Assim a matriz B é da forma
onde os + representam entradas da forma ;
i.e., B tem um grande bloco triangular superior
antecedido de a linhas e colunas ``sujas''.
Para calcular o determinante de B bastaria escaloná-la
usando as linhas de baixo para limpar as duas primeiras
linhas sem alterar o determinante, obtendo assim uma matriz B'da forma
cujo determinante é igual ao do bloquinho
no canto superior esquerdo;
nossa missão é portanto encontrar este bloquinho .
Mas B' = XB onde X é da forma
a i-ésima linha ()
é um vetor (vi)t tal que
i.e., tal que as a primeiras coordenadas são as únicas não nulas;
chamando estas a primeiras coordenadas de wi temos
e resta-nos encontrar os vetores vi e wi.
O vetor vi associa a cada vértice branco um coeficiente em
;
a figura mostra v1 no nosso exemplo favorito
(a forma como os coeficientes foram obtidos será explicada a seguir):
O vetor (vi)t B, por outro lado,
associa um coeficiente a cada vértice preto.
Para obter o coeficiente de um vértice devemos somar os coeficientes
dos vértices vizinhos multiplicados pelos coeficientes das arestas.
Vejamos w1 no nosso exemplo:
Os coeficientes de vi podem ser preenchidos obedecendo a ordem
dos vértices brancos.
Inicialmente tomamos os valores obrigatórios nas primeiras
a coordenadas (1 na i-ésima coordenada, 0 nas demais).
Depois preenchemos o j-ésimo vértice branco (j > a)
com o valor necessário para que a j-ésima coordenada
de (vi)t B seja igual a 0:
a estrutura da matriz B garante que isto é sempre possível
de forma única.
Finalmente, calculamos os primeiros a coeficientes de (vi)t B,
que nos dão o vetor wi.
Os coeficientes de B foram escolhidos de tal forma
que os coeficientes de vi são da forma
e o j-ésimo coeficiente de wi é
Assim, a menos de multiplicar linhas e colunas por potências de q,
coincide com
a matriz da proposição 1.14 acima.
Como
,
usando esta proposição temos
como o coeficiente de q0 é igual 1 dos dois lados
isto demonstra o teorema.
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Nicolau C. Saldanha
1999-08-10