Se
denota o grupo das unidades
de um anel A então
o determinante é um morfismo de grupos
(I.1.1) |
No caso de
ser não-singular,
bilinear e simétrica, e o
corpo k ter característica diferente de 2,
os grupos de matrizes que preservam
são os chamados
grupos ortogonais; em geral a classe
de isomorfismo destes
grupos depende da escolha de
,
e
logo estes grupos devem vir denotados por
On(k,f). O número de formas
que geram grupos não isomorfos depende do corpo
de constantes k. O determinante de qualquer
matriz em On(k,f) é ,
e o grupo
de matrizes de determinante um
em
é denotado por SOn(k,f).
O centro
Z(On(k,f)) consiste
nas matrizes
onde
,
e o quociente
é denotado
PSOn(k,f).
O núcleo SOn(k,f) de
No caso de k ser dotado de uma involução
e
ser hermitiana os grupos
de matrizes não-singulares que preservam esta
forma são os grupos unitários; como no caso
dos grupos ortogonais, os grupos unitários
dependem da escolha de
,
e devem ser denotados por Un(k,f). As matrizes
em Un(k,f) de determinante um formam um
subgrupo SUn(k,f). O centro
Z(Un(k,f)
de Un(k,f) é formado
por
,
e
Exemplos e Exercícios
1. Grupos clássicos sobre um corpo
finito. O corpo finito com q=pr
elementos será denotado por .
Temos
donde
é isomorfo ao
grupo S3 e o subgrupo
Sobre
o grupo
PSl2 consiste de classes de matrizes;
a descrição abaixo identifica
cada matriz com a classe a que pertence:
donde
é isomorfo ao
grupo A4 e
o subgrupo
Estes são, no entanto,
os únicos casos em que
não é simples.
Para n=2 e ,
e para n> 2
os grupos
são
simples e formam a família
mais tratável (a parte os grupos
cíclicos de ordem prima e os
grupos alternados An para )
no grande teorema de classificação
de grupos finitos simples (ver o material
recolhido em 3. abaixo). A ordem de
é dada por
2. A simplicidade de
.
No caso de A=k ser um corpo o determinante
(I.1.1) como homomorfismo de
grupos admite uma seção
e realiza Gln(k) como produto semi-direto
de Sln(k) e
.
Isto significa que toda matriz
se escreve de forma única
(2.1) |
(2.2) |
Se n=2 e
então
o grupo
se manifesta
como o grupo de transformações
lineares fracionárias
(2.3) |
Por causa de (2.2) o conjunto
Para provar a simplicidade de
é suficiente provar que se H for
um subgrupo normal de
contendo o centro
então necessariamnete
.
Se
H contiver a matriz
,
para
então H também
contem, para
,
a matriz
Assim, resta mostrar que H
contem alguma matriz
com
.
Seja
matriz em H
não no centro
com polinômio
mínimo
.
Se este polinômio
se fatorar em
então M é similar
a uma matriz diagonal, caso contrário M é
similar à matriz na forma canônica racional
Valem os isomorfismos
3. Um olhar de relance sobre grupos simples.
Para listar todos os grupos simples finitos
nos é possível, ao final do século XX,
enfim seguir o fenomenal conselho do rei de copas
em Alice no País das Maravilhas: ``Comece
pelo começo e vá
prosseguindo até chegar ao fim, e
então pare''. Esta lista, agora afinal completa
(ao que parece, pace opiniões divergentes
sobre a insuficiência da documentação
de certas provas), começa de uma forma
modesta: os grupos cíclicos
de ordem finita p são simples,
não tendo nenhum subgrupo normal,
de fato não tendo
subgrupo algum. Em ordem de complexidade
vem os grupos alternados
An para ,
mas não só a prova
da simplicidade destes grupos é
mais complicada como existem as ``exceções''
A3 e A4.
Os próximos grupos simples da lista são os grupos clássicos sobre corpos finitos listados em 1., que tem uma forte tendência à simplicidade, embora existam exceções. O padrão da procura é as provas de simplicidade ficarem cada vez mais complexas em cada família infinita, com esta complexidade atestada pela existência de exceções, até o ponto em que aparecem exceções fora das famílias: os grupos simples esporádicos, vinte e seis grupos simples que não se enquadram em nenhuma das famílias infinitas.
Os grupos alternados e os grupos clássicos
se manifestam a partir de uma ação natural,
os grupos alternados An aparecendo como
permutações pares do conjunto
e os grupos clássicos como homorfismos de
espaços vetoriais ou de espaços projetivos
(submetidos a restrições de preservar formas).
Outros grupos simples finitos foram descobertos
em situações similares, como grupos de
permutação de sistemas combinatórios.
A situação geral pode ser formalizada da
seguinte forma: dada uma categoria C e
um objeto C de C,
uma representação de um grupo G
em C é um homomorfismo de grupos
Tipicamente C é uma categoria concreta,
admitindo um funtor de esquecimento
:
os objetos de C
são conjuntos dotados de estrutura. Se
for uma representação em C, para
o grupo de isotropia Gc é o subgrupo
de G dado por
Dada uma representação
de G em C
define-se, para n inteiro positivo,
O grupo clássico
age
naturalmente na reta projetiva
,
o grupo de isotropia de
sendo dado por
Se q=(q')2 for um quadrado então
é
automorfismo involutivo de ,
que pode ser
extendido a um automorfismo da reta projetiva
por
.
Vendo
como grupo de
transformações lineares fracionárias
((2.3), isto é, identificando
com
),
e considerando o grupo
de transformações
na reta projetiva
dado por
Existem grupos estritamente 4-transitivos e grupos 5-transitivos (não isomorfos a grupos simétricos e alternados), mas segue do teorema de classificação que não existem grupos n-transitivos para . De fato, Jordan mostrou em 1872 que para só podem existir grupos estritamente n-transitivos (não isomorfos a grupos simétricos ou alternados) se n=4, e neste caso o grau da representação é 11, ou n=5, e neste caso o grau da representação é 12. Estas cotas são atingidas: existem grupos assim. De fato, existem grupos assim que são grupos simples e esporádicos (isto é, não isomorfos a nenhum elemento das famílias clássicas). Estes grupos são os grupos M11 e M12 descobertos por Mathieu em 1861.
Frequentemente a categoria C em que se
representa um grupo
tem aspectos combinatórios interessantes.
Por exemplo, um sistema de Steiner
de tipo
(r,s,t) consiste em um conjunto A de cardinalidade
t e um conjunto
de subconjuntos
,
com
card(Bi)=s tal que
para cada subconjunto
com card(C)=r existe exatamente um i
com
.
Uma estrutura assim
admite morfismos evidentes
(os subconjuntos Bi de um sistema sendo levados
nos subconjuntos do outro),
definindo uma categoria St que, por serem
como são as coisas, é muito pequena:
neste mundo existem poucos sistemas de
Steiner. Por exemplo, a menos de isomorfismo
só existe um sistema
de Steiner
de tipo
(r,s,t)=(5,6,12), ou de tipo (5,8,24).
No entanto, uma surpresa:
Dado um sistema de Steiner de tipo (r,s,t) sobre um conjunto A, destacando um elemento define-se um sistema de Steiner de tipo (r-1, s-1,t-1) sobre tomando como subconjuntos onde Bi são todos os subconjuntos do sistema original que contem a. Dado o sistema , o sistema que resulta deste processo tem como grupo de automorfismos o grupo de Mathieu M11, e dado o sistema , o sistema que resulta deste processo tem como grupo de automorfismos um quarto grupo simples M23 ainda descoberto por Mathieu. O grupo M11 é o grupo de isotropia de um símbolo de M12, e o grupo M23 é o grupo de isotropia de um símbolo de M24. O grupo de isotropia de um símbolo de M23 é ainda um último grupo simples M22 descoberto por Mathieu; este grupo M22 é um subgrupo de de índice dois, onde é o sistema de Steiner obtido a partir de .
Outros grupos começam a se repetir, ou não são simples: por exemplo, o grupo de isotropia de um símbolo de M23 é o grupo clássico (e logo não é um grupo novo, esporádico), enquanto que o grupo de isotropia de um símbolo de M11 tem um subgrupo (isomorfo a ) de índice dois (e logo normal) e assim este grupo não é simples.
Os grupos de Mathieu
M11,M12,M22,M23
e M24 foram os únicos grupos esporádicos
descobertos no século XIX. Suas ordens são dadas
por:
Os demais vinte e cinco grupos esporádicos
foram descobertos no século XX; de fato, foram
decobertos entre 1950 e 1980.
Referências.
A bibliografia sobre grupos clássicos é
imensa. Os livros de Weyl [W] e de
Dieudonné [D] são clássicos.
A classificação dos grupos simples deveria ser cantada em versos épicos. Enquanto tal não acontece, permanece dispersa em uma quantidade de artigos feitos por e para especialistas. Quem mais trabalhou para remediar este estado de coisas foi Daniel Gorenstein, do qual citamos [Go].