Dados
com n > 0 e
(a, n) = 1,
definimos a ordem de a módulo n,
denotada por
,
como sendo o menor inteiro positivo tcom
.
Analogamente, se K for um corpo finito e
,
,
definimos a ordem de a em K,
denotada por
,
como sendo o menor inteiro positivo tcom
;
temos
.
Claramente
se e somente se
;
pelo teorema de Euler,
.
Dizemos que a é uma raiz primitiva módulo n
se
.
Analogamente, dizemos que a é uma raiz primitiva em K
se
,
onde q = |K| é o número de elementos de K.
Por exemplo, 2 é raiz primitiva módulo 5 mas
2 não é raiz primitiva módulo 7 (
).
Também é fácil verificar que não existe raiz primitiva módulo 8
pois se x é ímpar então
.
Podemos também dizer que a é raiz primitiva se a função
ou
é injetora.
Como o domínio e contradomínio são conjuntos finitos
com o mesmo número de elementos,
a função é injetora se e somente se ela é sobrejetora.
Podemos assim dizer que a é uma raiz primitiva módulo nse e somente se para todo
(ou para todo
)
existe r com ar = b.
Um corolário desta caracterização de raízes primitivas é que se a é raiz primitiva módulo n e m|n então a é raiz primitiva módulo m. O objetivo da próxima seção é caracterizar os valores de n para os quais existe uma raiz primitiva módulo n. Nesta seção mostraremos que todo corpo finito admite raiz primitiva; em particular existe raiz primitiva módulo p para qualquer primo p.
Precisamos primeiro de uma versão do pequeno teorema de Fermat para corpos finitos:
Teorema 2.9:
Se K é um corpo finito e q = |K|então
aq - a = 0 para todo .
Dem:
Se a = 0 o teorema vale; vamos supor a partir de agora .
Sejam
os elementos não nulos de K.
Os elementos
são todos não nulos e distintos,
logo são os próprios
,
apenas permutados.
Assim
e
aq-1 = 1.
Segue deste teorema que
,
analogamente ao que já sabiamos para
.
A partir do que vimos sobre polinômios temos também que
Teorema 2.10: Se K é um corpo finito então existe raiz primitiva em K.
Dem:
Seja d um divisor de q-1:
definimos N(d) como o número de elementos de
de ordem d.
Claramente
.
Se N(d) > 0, seja ad um elemento de K com
:
os elementos
são raízes do polinômio
xd - 1 = 0.
Como este polinômio tem no máximo d raízes,
estas são todas as raízes.
Assim, os elementos de K de ordem d são precisamente
adr,
.
Assim os únicos valores possíveis para N(d) são 0 e
.
Mas como
,
temos
para todo d | q-1.
Em particular
N(q-1) > 0 e existem raízes primitivas.
Apesar de existirem raízes primitivas módulo p para todo primo pnão existe uma fórmula simples para obter uma raiz primitiva. Por outro lado, conjectura-se que todo inteiro que não é um quadrado é raiz primitiva para infinitos valores de p (conjectura de Artin).
Corolário 2.11:
Dados
e um inteiro positivo kexiste
com yk = xse e somente se
, onde q = |K|.
Dem:
Se x = yk então
pois
yq-1 = 1.
Suponha agora que
.
Sejam a uma raiz primitiva de K e
com x = ar.
Temos
donde
e portanto existem inteiros u, v com
ku + (q-1)v = r.
Assim
onde y = au.