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Re: [obm-l] Re: [obm-l] Matemático resolve probl ema centenário e recusa US$ 1 milhão
Caro Leonardo
É realmente muito difícil escrever sobre questões que tangenciam
convicções pessoais e desejos (conscientes ou
inconscientes). Você foi extremamente feliz
. Ganhou (mais) um admirador.
Abraços,
Nehab
At 00:42 28/8/2006, you wrote:
Fiquei pensando alguns minutos
se valeria a pena envolver-me nessa "disputa": investe-se algum
tempo e o risco de ser mal compreendido é enorme... Mas tenho plena
convicção de que tenho algo relevante a dizer.
As reações ao gesto do Perelman variaram do "maluco" ao
"nobre". Pessoalmente, eu diria apenas "interessante"
ou "curioso". Qualquer julgamento (para o bem ou para o mal)
depende das convicções pessoais do inquisidor, construídas a partir das
suas experiências de vida, únicas e incomunicáveis. Ou seja, cuidado para
não enxergar apenas o que você quer ver... O próprio Perelman disse que
ninguém deveria ter interesse em saber mais sobre ele, ele não quer ser
exemplo de nada!
Creio que ninguém se envolve com o conhecimento sem paixão, pelo menos em
um grau mínimo. Porém, mesmo que se trate de uma paixão ardorosa, isso
não implica desprendimento de qualquer outro desejo. Muito já se escreveu
sobre a diferença na mentalidade dos cristãos católicos (que condenam
fortemente o acúmulo de capital) e a dos cristãos protestantes (que não
demonizam o dinheiro ganho justamente). A Reforma surgiu desse conflito!
Preferências religiosas à parte, é indiscutível que a linha católica
encontra eco em uma mentalidade muito comum nas "ciências
puras" no Brasil, de que qualquer trabalho mais "aplicado"
ou que possa gerar dividendos seja condenável. Acho particularmente
nociva (para a própria Ciência e para a sociedade em geral) essa postura.
Tenho inúmeras críticas a valores e atitudes norte-americanas, mas é
inquestionável que, no mundo em que vivemos, os EUA são o país que melhor
sabe transformar conhecimento em riquezas. Não coincidentemente, o
Brasil, subdesenvolvido, é péssimo nesse aspecto.
Aqui, muitos respeitáveis professores doutores digladiam-se em uma
questionável disputa que dá a entender que a Matemática, que é uma só,
divide-se em "pura" e "aplicada", resultando em
pouquíssimos pesquisadores envolvidos com aplicações. Enquanto isso, nos
EUA ou em qualquer outro país desenvolvido, os pesquisadores que
enfatizam aplicações atraem recursos e estudantes não só para suas áreas
de atuação mas também para aquelas mais fundamentais, respeitando e sendo
respeitados pelos pesquisadores com temas mais afastados do cotidiano.
Em resumo, no mundo em que vivemos, para "tirar muitos países do
ostracismo científico e da miséria", acima de tudo é preciso parar
de "demonizar" quem tem outras ambições além das intelectuais.
Arrisco dizer que o que irritou o Fernando não foi a atitude do Perelman,
mas sim a "exaltação fervorosa" dessa atitude, que praticamente
implica na condenação do comportamento oposto. Pelo menos comigo, foi o
que ocorreu. Com todo o respeito, considero a frase "quando se
entrar no ramo da matemática subentende-se que você não está nem aí pra
dinheiro e que o pouco que você ganha lhe torna uma pessoa feliz, porque
você faz o que gosta e tem amor por isso" muito parecida com uma
pregação religiosa: "o reino dos céus será seu, não importa o quanto
você sofra aqui na Terra". Cada um tem o direito de acreditar no que
quiser, mas tenho convicção (e parece que todos os estudos sobre o
desenvolvimento sócio-econômico das nações vão nessa direção) de que essa
postura não ajuda em nada o desenvolvimento da Matemática e do Brasil.
Notem, não condeno o Perelman, não condeno nenhuma pesquisa
"pura", não estou dizendo que só se deve fazer pesquisa
"aplicada". Só defendo a "não-demonização" de quem
gosta de aplicações e/ou quer ganhar dinheiro com o conhecimento: isso
pode ser benéfico para todos!
Respeitosamente,
Leonardo P. Maia.
On 8/27/06, Palmerim Soares
<palmerimsoares@gmail.com
> wrote:
-
- O que está se louvando aqui é a postura, a atitude, a forma de
encarar com amor e desprendimento, sem egoísmo, nem interesse, o espírito
de sacrifício pelo bem da humanidade, coisa muito rara hoje em dia e que
talvez ajudasse a tirar muitos países do ostracismo científico e da
miséria. Ninguém aqui disse que está se candidatando a santo, apenas
adimiramos algo que é nobre e raro, manifestando-se em abundância em um
colega de profissão estrangeiro. Não é preciso se tornar uma Madre Teresa
para dar uma parcela do nosso tempo, energia e amor àqueles que não têm
acesso ao que para nós é facilmente obtido. Dividir o conhecimento é
ainda mais nobre que dividir o alimento... e isso nós todos aqui já
estamos fazendo de maneira magnífica e maravilhosa, não é? Eu,
pessoalmente, se fosse desprendido como ele, aceitaria o dinheiro do Rei
(que talvez o utilizasse de maneira fútil) e o empregaria para fazer mais
pesquisas e também para auxiliar os menos favorecidos que apenas precisam
de uma oportunidade e um gesto de amor para mostrarem ao mundo o quanto
são capazes... Acho que o que a atitude dele nos ensina é que nem todos
os homens agem somente por dinheiro ou por fama e nem por isso deixam de
ser felizes ou deixam de fazer os outros felizes.
-
- Grande abraço
-
- Palmerim
-
-
-
- Em 27/08/06, fernandobarcel
<fernandobarcel@bol.com.br
> escreveu:
- O assunto é offtopic, mas fiquei chocado com o que vai pela cabeça
desse pessoal!
- Quer dizer que só matemáticos conseguem ter atitudes humildes?!
- E quer dizer que quem trabalha com matemática pura durante 10 anos
não deve fazê-lo por dinheiro? então, todos os profesores de matemática
deveriam dar aula de graça?!
- E quem ganha um prêmio Nobel, ou equivalente? aceitá-lo seria
"fraqueza de caráter"? ou menos nobre, talvez?
- Adoro o meu trabalho, mas não aceitaria trabalhar de graça se não
tivesse de onde tirar o meu sustento. Como não sou filho de pai rico, e
comumente tenho vontade de fazer mais do que posso, jamais recusaria um
prêmio em dinheiro (ou qualquer outra modalidade). Não sou excêntrico,
nem hipócrita, tampouco demagogo - me considero um cidadão comum, que
vive num país capitalista.
- Abraços a todos!
- ---------- Início da mensagem original -----------
- Assunto: Re: [obm-l] Matemático resolve probl ema centenário e recusa
US$ 1 milhão
- > Sem dúvida, é uma atitude humilde, e que só os matemáticos
conseguem ter,
- > quando acabei de ler a notícia, do meu computador o aplaudi e
fiz uma
- > reverencia, matemática não é dinheiro, não acredito que alguém
possa passar
- > 10 anos trabalhando em matemática pura por dinheiro, o bonito do
sucesso do
- > Perelman além da resolução magnífica foi se recusar a receber
essa quantia.
- > Talvez outros não pensem assim, mas quando se entrar no ramo da
matemática
- > subentende-se que você não está nem aí pra dinheiro e que o
pouco que você
- > ganha lhe torna uma pessoa feliz, porque você faz o que gosta e
tem amor por
- > isso.
- >
- > Um abraço a todos os matemáticos do Brasil!
- >
- > Que isso sirva de exemplo!
- >
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- Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
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http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/olimp/obm-l.html
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