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[obm-l] Fwd: Fabrício sem avião 2
Date: Wed, 13 Aug 2003 08:40:44
-0300 (ART)
From: Paulo Rodrigues <pjbgr@yahoo.com.br>
Subject: Fabrício sem avião 2
To: obm@impa.br
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Escola privada carimba passaportes
Fábio Campos
[13 Agosto 04h22min]
Certas histórias tocam fundo a alma dos leitores. A do estudante Fabrício
Benevides, o sem-passagem, provocou a indignação de muitos. Fabrício é
aluno da graduação em ciências da Computação (UFC). Passou pelas
acirradas seletivas nacionais e se classificou para representar o Brasil
nas Olimpíadas Internacionais de Matemática, em Bucareste, Romênia. A
disputa já aconteceu, mas Fabrício não concorreu porque sua universidade
e as instituições que criamos para promover o "progresso da
ciência" negaram-lhe uma passagem aérea. A mesquinharia só faz
vítimas entre os que freqüentam os bancos da escola pública. A garotada
"caxias" que estuda nos melhores colégios da gloriosa Aldeota
carimba seu passaporte com a inestimável ajuda do contribuinte cearense.
E os melhores colégios estampam anúncios com o feito.
OS AVIÕES APENAS SOBREVOAM O PICI
Quando era aluno de uma escola particular, Fabrício nunca deixou de
viajar para disputar uma olimpíada. É um recorrente ganhador de medalhas.
Colocou-as no peito inclusive nas Olimpíadas Mundiais de 1999 e 2000.
Sempre com o apoio de seu colégio, tivesse ou não a sempre bem vinda
ajudinha das instituições públicas. Quando queimava as pestanas numa
escola inscrita na junta comercial, Fabrício costumava ganhar a mesma
atenção da que foi dedicada a Larissa Lima, 17 anos. Veja a notícia
divulgada no sítio
(www.sct.ce.gov.br)
da Secitece: "Ao saber que o governo do Ceará iria patrocinar a
participação de Larissa na Global Young Leaders Conference (3 a 14 de
agosto, nos EUA), o secretário da C&T, Hélio Barros, propôs que a
entrega do cheque de R$ 7.500 fosse feita pelo governador Lúcio
Alcântara. O pedido foi aceito e a solenidade ocorreu no Palácio Iracema,
dia 4 de maio". Pois é. O aluno da pública e gratuita UFC ficou a
ver aviões. A questão é: porque nossos gestores foram sensíveis a um caso
e tão impiedosos com outro?
UMA AULA DE BOM SENSO E EQUILÍBRIO
É de se esperar rompantes de revolta do estudante que, após a via-crucis
pelos gabinetes de instituições públicas, não conseguiu o apoio para
disputar as Olimpíadas Internacionais. O rancor seria próprio da idade e
das circunstâncias. Ledo engano. Mensagem enviada à Coluna pelo próprio
Fabrício desmente tal idéia. "Fiquei surpreso e lisonjeado ao ler
sua coluna no Jornal O POVO. Nela, você trata de maneira
bastante crítica o descaso da administração pública e a falta de
incentivo a nós estudantes. De fato, participo de Olimpíadas de
Matemática desde a 7ª Série do Ensino Fundamental. Já tive diversas
oportunidades de viajar e trazer prêmios para o Brasil, inclusive nas
Olimpíadas Mundiais de 1999 e 2000. Nesta época, sempre tive apoio total
do meu colégio. Não com grande surpresa, percebi que na UFC as coisas se
passam de maneira bastante diferente. Assim, venho por meio deste,
agradecer-lhe pela publicação". O grifo a seguir é do editor:
Espero que a mesma tenha sido lida por nossas autoridades
universitárias e que a partir desse momento elas passem a refletir melhor
nas suas tomadas de decisão, procurando valorizar muito mais a todos nós
que fazemos a Universidade".
MARASMO DE TECNOCRATAS CORPORATIVISTAS
O caso despertou a indignação de leitores. Um deles foi muito duro com a
UFC. Apesar de ter cometido o pecado da generalização, vale fazer
reflexão acerca de suas ácidas palavras: "O mais incrível é
verificar que os nossos professores da UFC levam um banho no que se
refere a gestão e marketing dos gestores das escolas particulares. Logo
eles que deveriam ser referencial de excelência. O que vemos são
profissionais corporativistas, pouco interessados nas demandas sociais,
agarrados aos seus empregos e sem a menor idéia de suas funções perante a
sociedade. São esses comportamentos que favorecem a idéia daqueles que
propõem a privatização de tudo. Aonde encontrar argumentos para defender
a universidade pública enterrada no marasmo do seus tecnocratas
incompetentes, que só enxergam seus contracheques e a reforma da
previdência?"
AS "NUANCES" DO TER E DO NÃO TER
De gente que convive com Fabrício na UFC veio o seguinte: "A
participação do Fabrício na Olímpiada não era imprescindível à sua
carreira. Ele fará carreira brilhante de qualquer forma, dada a sua
capacidade intelectual e emocional. Entretanto, ele teria orgulho, e para
tanto fez a sua parte, em representar o Brasil e o Ceará. Com certeza, a
sua participação contribuiria de maneira efetiva para o sucesso da equipe
brasileira. Para o Fabrício, na ocasião, disse algumas palavras de
consolo e encorajamento. Voltarei a fazê-lo. Mas, é difícil explicar a um
garoto dessa idade, sem ser demasiadamente pessimista, essas nuances' do
ter e do não ter dinheiro. Há certamente uma explicação, mas será ela
justa?
De outro professor da UFC: "Na verdade o pior de tudo
foi que a UFC e a Secitece não disseram não ao Fabrício, mas ficaram
protelando, e quando resolveram já era tarde demais... Se o NÃO tivesse
sido avisado à tempo, a Sociedade Brasileira de Matemática, através da
Olimpíada Brasileira de Matemática, provavelmente teria dado a passagem.
Vale salientar que esta é a primeira vez que o Brasil participou da IMC
(International Mathematics Competition)".
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