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Re: Provas fáceis do IME...............



   Antes de começar a falar do assunto em pauta, queria me identificar para
ficar mais claro a minha posição. Sou aluno do quinto ano de Engenharia
Mecânica-Aeronáutica do ITA (estou me formando) e conheço várias pessoas que
passaram no vestibular do IME. Eu acho as provas de matemática do IME antes
de 1996 muito interessantes no que se refere ao desafio de resolver 10
questões difíceis em apenas 4 horas. Entretanto como instrumento de
vestibular ela não é adequada pois nivela por baixo a maioria dos
vestibulandos. Conheço muita gente que passou no IME acertando apenas 3 ou 4
questões de matemática (de 10) e indo bem nas outras provas. Alunos bons
acabavam acertando a mesma quantidade de questões de alunos médios, pois
somente as mais fáceis eram acertadas por estes. Pelo que me passaram,
somente uns 20 alunos por ano conseguiam fazer pontuações boas na prova de
matemática.
  Fiquei trancado um ano aqui no ITA e neste tempo dei aula em um cursinho
preparatório para o ITA/IME e vi como é o esquema de trabalho. É um massacre
de questões resolvidas, sem se importar com a teoria, pois ela não é
cobrada, isto para física, matemática e química. Posso adiantar também que
mais ou menos 50% das questões das provas do ITA e do IME são trabalhadas
antes no cursinho, pois o esquema de provas não muda muito. Isto acaba
elitizando a seleção dos alunos, pois estes cursinhos são caros. Na minha
turma do ITA passaram 35 alunos de um cursinho do Rio de Janeiro, e ano
passado 21 alunos vieram de um cursinho de São José dos Campos. Os próprios
programas não eram adequados, o IME até 95 cobrava limite, derivada e
integral, e as questões não eram elementares. Até 93 o ITA cobrava desenho
geométrico na prova de matemática (últimas 5 questões). Se eles mudaram é
porque analisaram que não havia necessidade de cobrar assuntos que
normalmente não são ensinados no 2o grau, do mesmo modo que a prova do IME
está mais fácil porque assim fica melhor para selecionar os alunos no
vestibular. Eu conheço pelo menos 10 pessoas que estão hoje no ITA e que
passaram ano passado no IME e acertaram entre 6 e 8 questões na prova de
matemática, que já algo mais razoável que 3 ou 4.
   Não acho que aumentar o nível dos vestibulares vai aumentar o nível das
aulas no 1o e 2o graus. O que vai acontecer é elitizar cada vez mais a
seleção dos alunos. Vivemos no Brasil, que é terceiro mundo, possui muitas
dificuldades na área da educação, com professores muito mau remunerados,
pouco especializados e principalmente desestimulados. Provas mais difíceis
iriam acabar piorando. Um esquema interessante que eu vi recentemente foi a
prova do ENEM, que não exige decoreba e sim raciocínio. Vai bem na prova
quem tem capacidade e não quem fez cursinho. A própria prova de física do
ITA agora está cobrando questões que envolvem raciocínio, aproximadamente
30% das questões são assim.
   Quero deixar claro que adoro olimpíadas de matemática e questões de
matemática desafiadoras, só que isto tem sentido em competições de
matemática e não em exame vestibulares, principalmente na realidade
brasileira. Acredito que hoje o IME e o ITA encontraram um ponto de
equilíbrio nas suas provas, contando agora com questões fáceis, médias e
difíceis.
   Espero que mais pessoas se manifestem neste sentido, pois é um assunto
bem importante. Até mais.

Marcelo Rufino   ITA 99