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[SPAM] [obm-l] OFF-TOPIC_A Morte dos sonhos, concursite...
- To: obm-l@xxxxxxxxxxxxxx
- Subject: [SPAM] [obm-l] OFF-TOPIC_A Morte dos sonhos, concursite...
- From: Cristóvão <listas.mat@xxxxxxxxx>
- Date: Sun, 08 Jun 2008 11:47:27 -0300
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Olá a todos...
Na introdução de seu livro "/Meu Professor de Matemática e outras
histórias/" o Professor Elon faz menção ao seu mestre como exemplo de
integridade, coerência e propósito bem definido. Acho que este texto
pode nos fazer refletir sobre definição de propósitos, uma vez que é tão
delicado sobreviver, hoje, sendo movido por paixão.
Este texto andou dando o que falar após sua publicação. Ele envolve
temas que de uma forma ou de outra estão presentes na maioria de nós, em
nossos pensamentos sobre prazer no que se faz, comodidade, estabilidade,
enfim, acho interessante lê-lo, pois, nos faz refletir sobre nossas
opções profissionais e o sentido que damos aos rumos de nossas vidas.
Numa época de tanto consumismo, acho que seria válido o registro das
várias opiniões acerca do tema, principalmente por parte daqueles que
são referência ,para nós, aqui na lista. Espero que seja interessante e
proveitosa a leitura do mesmo, por parte dos que se interessarem.
A morte dos sonhos
/Concursite, doença que ataca os jovens, faz mal ao Brasil/
por Raul Haidar
Ao lado da doença infecto-contagiosa chamada "juizite", cujo causador é
um vírus chamado "megalomanus arrogantis", infelizmente existe outra
doença, mais recorrente, chamada "concursite", causada pelo vírus
"ilusioni securitates".
Como sabemos, a juizite ataca bacharéis em direito que se tornam
magistrados, quando eles não possuem verdadeira vocação para fazer justiça.
Algumas das vítimas do vírus “megalomanus arrogantis” acabam adquirindo
os piores sintomas da doença: alergia a contatos com advogados, falta de
vontade de trabalhar e delírios alucinantes, que os fazem se imaginar
superiores ao resto da espécie humana.
A concursite é uma doença mais recentemente descoberta, mas muito pior.
Ataca não apenas bacharéis em direito, mas qualquer pessoa que ingressa
numa faculdade sem saber bem o que quer ser quando crescer.
Com o avanço da tecnologia e das ciências em geral, atualmente temos uma
enorme quantidade de profissões, especializações e cursos supostamente
“superiores”, de tal forma que o pai que pensa em dar uma “profissão” ao
seu filho fica perdido, pois não há mais como orientar a carreira de
ninguém.
O jovem também fica perdido. Mais cômodo, mais simples , mais óbvio,
pode ser seguir a profissão dos pais. Talvez isso explique porque a
minha filha mais velha é advogada. Claro que na genética existe
explicação para isso. Tanto que a mais nova é jornalista (coitadinha!) e
a do meio, talvez por conhecer alguns dos meus clientes, abandonou a
contabilidade e está se dedicando à psicologia.
Mas a tal concursite acaba de certa forma atacando muitos dos jovens que
hoje entram na faculdade.
Um dia, em certa faculdade, perguntei a uma caloura porque ela havia se
matriculado e a resposta veio fácil: para fazer um concurso. Só que
ninguém sabia para qual carreira pública. Vocação, mesmo, a moçoila
tinha apenas para um emprego público, onde segundo ela existe uma tal de
“segurança”.
Recentemente uma revista publicou reportagem sobre os concursos
públicos. E o que me chamou a atenção foi uma pessoa que havia sido
aprovada para policial rodoviário e que foi fotografada com seu
uniforme. Segundo a reportagem, esse policial estava se preparando para
os próximos concursos de delegado, procurador, juiz, defensor público,
assessor legislativo, etc. etc. .
Essa terrível doença, que é infecto-contagiosa, a concursite, faz um mal
tremendo não só às suas vítimas, como ao Brasil.
O doente é prejudicado, pois só tem duas hipóteses: ou ele é uma pessoa
sem sonhos, sem ideais, sem esperanças, ou está abrindo mão, renunciando
ou trocando esperanças, ideais e sonhos por meras ilusões, suposições ou
frustrações futuras.
O discurso desses desafortunados pacientes é sempre o mesmo: quer ser
funcionário público por causa da segurança, de bons salários, da
aposentaria, das férias, ou mesmo da ridícula idéia de serem
“autoridade” ou mesmo tratados de “excelência”. Isso tudo é muito triste.
Segurança é a mais ilusória de todas as ilusões humanas. No mundo atual
segurança não existe. Que o digam os moradores dessa fortalezas medonhas
chamadas “condomínios fechados” quando sofrem arrastões praticados pelos
moradores da favela vizinha. Ou aquele sujeito que andava armado e foi
baleado com a própria arma. Segurança de receber salário todo mês? Pode
ser. Mas isso será que vale mais que os sonhos? Paga as esperanças?
Compensa o abandono dos idéiais?
A aposentadoria mais cedo ou mais tarde vai mudar para pior. Nenhum país
pode suportar aposentadorias precoces, de pessoas que no dia seguinte já
estão trabalhando e muitas vezes no próprio serviço público. Em qualquer
país que pretenda desenvolver-se, em breve só poderá haver aposentadoria
por idade (no mínimo 75 anos) ou por absoluta invalidez.
Férias, tudo bem. Mas no limite razoável de 30 dias por ano. Muito
embora existam pessoas que não deveriam ter férias, pois não trabalham,
apenas enganam. Chegam sempre tarde, saem mais cedo. Ainda bem que são
raríssimos esses casos.
O pior mesmo no serviço público é o concursado ter um chefe idiota, o
que, aliás, é muito comum.
Quando o idiota é eleito pelo povo, tudo bem. Afinal, o povo quase
sempre merece quem elege.
Mas há funcionários concursados de bom nível, sérios, dedicados, cujos
chefes são meros apadrinhados políticos, sem competência ou sem
apetência para o trabalho.
Conheço uma brilhante advogada que prestou concurso e tem como chefe uma
pessoa que não serve nem para carregar a pasta de sua subordinada. O
único talento do chefe e razão de sua nomeação é estar filiado ao
partido que está no poder e ser um puxa-saco de carteirinha.
A concursite também causa muito prejuízo ao governo. Quando aquele
policial rodoviário passar no concurso de delegado, haverá uma vaga de
policial a ser preenchida. Novo concurso, novos treinamentos e talvez
quando o substituto estiver treinado, terá que novamente ser
substituído. E assim indefinidamente, até que um policial vocacionado,
que tinha o sonho de ser policial e não apenas ocupar o cargo, venha a
ser admitido. O Brasil perde muito com isso.
Parece razoável supor que uma pessoa que ingresse na faculdade de
engenharia pretenda ser engenheiro. Mas por causa da concursite isso é
só uma suposição. Nos últimos anos muitos engenheiros se tornaram
auditores fiscais. Até aí, nada demais. O engenheiro tem bom raciocínio
lógico e isso facilita a aprovação nos testes de múltipla escolha.
Mas de repente um engenheiro eletricista que virou auditor fiscal é
promovido a inspetor fiscal, chefe de repartição aduaneira. E, nessa
qualidade, pratica ato ilegal, contra o qual é concedida liminar em
mandado de segurança.
Vai daí que a agora autoridade, engenheiro eletricista ignorante em
questões jurídicas tanto quanto um advogado face às funções básicas de
uma bobina elétrica, arvora-se em “interpretar” a decisão judicial e
atreve-se até a considerá-la “inadequada” ! Mais uma vez é o sapateiro
indo além das sandálias. Com isso, queixa-se o fisco de uma suposta
“indústria de liminares”, olvidando-se da indústria de normas ilegais,
muito mais próspera.
Por causa da concursite, muitos bacharéis em direito que passaram os
cinco anos de faculdade no boteco, ingressam nessas milionárias
indústrias de ensino preparatório e ali ficam anos a fio, até serem
aprovados no próximo concurso.
Alguns ingressam no MP e se dedicam ao preenchimento de dados
estatísticos, vangloriando-se de terem colocado na cadeia um bom número
de pessoas, mesmo que estas, depois, sejam absolvidas. Não são eles, os
que erram, que pagam pelos seus erros, mas a sociedade.
Outros bacharéis se tornam juizes e, acometidos da juizite, chegam a
lamentar (será o pecado da inveja?) quando algum advogado ganha
honorários expressivos. São raríssimos, todavia, os que se arriscam ao
pedido de exoneração para advogar. Preferem “arriscar-se” na advocacia,
logicamente depois de acomodados em boa aposentadoria. E o que é pior:
clientes ignorantes chegam a imaginar que o servidor público aposentado
(é isto que eles são!) é um profissional melhor que os outros.
Venho fazendo, desde 2004, uma série de palestras sobre o tema “A
Fórmula do Sucesso na Advocacia”. Cerca de 5 mil jovens advogados e
estudantes já as assistiram. E a mensagem mais importante que procuro
transmitir é que a única finalidade da criatura humana é ser feliz. Quem
tiver vocação para o serviço público certamente será feliz. Mas não
basta fazer o que se gosta. Mais que isso, é indispensável gostar do que
se faz. Quem conseguir isso não contrairá nenhuma das doenças aqui
mencionadas.
*Raul Haidar é advogado e jornalista profissional.
Revista *Consultor Jurídico*, 30 de julho de 2007
Internet: < http://conjur.estadao.com.br/static/text/58021,1 >
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Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
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