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Re: [obm-l] Divisão de polinômios



Olá

Bonito o problema. Vou usar um argumento geométrico. Talvez seja melhor vc tentar explicar um pouco mais as demonstrações, mas lá vai.

Vamos observar algumas coisas a respeito de polinômios.
Def.: Seja q um polinômio qualquer. Vou chamar R(q) o conjunto das raízes do polinômio q, isto é:
R(q) = { z \in C | q(z) = 0 }
(note que estou falando de raizes complexas, nao apenas reais)

OBS: vou trabalhar somente com polinômios mônicos, isto é, polinômios cujos coeficientes do termo de maior grau são iguais a 1. Isso não tira a generalidade da teoria: se um polinômio p' for mônico, existe uma constante K ( = 1/a, onde a é o coef. dominante) tal que p = Kp' é mônico. Basta então fazer mudanças pequenas com essa constante para generalizar a teoria.

Lema: Note que, se p = ab, onde a,b são polinômios, então R(p) = R(a) U R(b), certo?
Isto é fácil de provar. Se z é tal que a(z) = 0, então p(z) = a(z) * b(z) = 0 * b(z) = 0. Logo R(a) está contido em R(p). De forma análoga, R(b) está contido em R(p). Temos também que, se z é tal que p(z) = 0, então p(z) = 0 = a(z) * b(z), e como a(z) e b(z) são números reais (satisfazendo assim os axiomas de corpos), devemos ter que ao menos um deles é igual a 0, e portanto R(p) está contido em R(a) U R(b). Logo R(p) = R(a) U R(b).

Cuidado com a recíproca. Para que ela valha, precisamos adicionar uma hipótese quanto às multiplicidades das raízes de a,b e p. Vamos enunciar algo um pouco mais fraco que essa recíproca, mas que usaremos:

Lema: Sejam p, q polinômios tais que R(p) contém R(q), e que as multiplicidades das raízes de q sejam no máximo iguais às de p, podendo ser menores.. Então existe um polinômio d tal que p = qd, e R(p) = R(q) U R(d).
Tome o conjunto R(p) = {a_1, a-2, ..., a_n}. Para cada a_i, seja m_i igual à multiplicidade de a_i em p, se a_i não for raíz de q, ou igual à diferença entre as multiplicidades de a_i em p e em q. O polinômio d = prod[i=1..n] {(x-a_i)^(m_i)}, resolve o problema: Ao polinômio q, adicionamos as raízes de p que não estavam presentes, e aumentamos as multiplicidades das raízes que já estavam presentes de forma a igualar os dois polinômios.


É bom também ter na cabeça um tipo de fatoração de polinômios.
Considere x^2 - 1. É fácil ver que x^2 - 1 = (x-1) * (x+1)
E x^3 - 1? Veja que 1 e raiz e faça a divisão, ficando com x^3 - 1 = (x-1)*(x^2 + x + 1).
E x^4 - 1? É de se esperar que x^4 - 1 = (x-1)*(x^3 + x^2 + x + 1)
É de fato o que ocorre. Temos então:
x^n - 1 = (x-1) * (sum[k=0..(n-1)] {x^k}) = (x-1) * (x^(n-1) + x^(n-2) + ... + x^2 + x + 1)
(prove isso)


Mas chega de viajar e voltemos agora ao seu problema.
Vamos fazer umas mudanças nos polinômios. Note inicialmente que p(x) = g(x^1111).
Temos: g(x) * (x-1) = x^10 - 1 = G(x)
Sendo u = x^1111, p(x) = g(u). Seja então P(x) = g(u) * (u - 1) = u^10 - 1 ==> P(x) = x^11110 - 1 = p(x) * h(x), h(x) = x^1111 - 1

Temos então que R(G) = R(g) U {1} e R(P) = R(p) U R(h)

Note que todas as raízes de G são as 10 raízes décimas de 1 (pensando nos complexos!), e as raízes de P são as 11110 raízes 11110-ésimas de 1. Todos esses números estão sobre a circunferencia |z| = 1, correto? Ainda mais: R(G) é o conjunto dos vértices de um decágono regular inscrito na circ |z| = 1, de tal forma que o ponto z = 1 seja um de seus vértices e R(P) é o cjto dos vértices de um polígono regular de 11110 lados, e z=1 é um de seus vértices.

É fácil notar que R(P) contém R(G): o polígono regular de 11110 lados pode ser cortado em 10 fatias, tais que cada uma contém 1111 vértices adjacentes, a partir do vértice z = 1, no sentido anti-horário; o primeiro vértice de cada um desses pedaços, se unidos aos adjacentes, formarão um decágono regular. Estes vértices primeiros de cada um dos 10 grupinhos de 1111 vértices são os elementos de R(G)!

Também, R(P) contém R(g), já que este útimo está contido em R(G).

Note agora que R(p) inter R(h) = {}.
Cada raíz de P tem multiplicidade 1. Como P = ph, não pode haver raízes em comum entre p e h, senão alguma raiz r tal que p(r)=h(r)=0 teria multiplicidade pelo menos 2 em P, mostrando que R(p) inter R(h) = {}.

Vamos mostrar agora que R(h) inter R(G) = {1}.
É fácil ver que 1 \in R(h) inter R(G). Agora note que 10 e 1111 são primos entre sí. Assim, caminhando por sobre as raízes de h, a partir de z=1, no sentido anti-horário, não encontraremos nenhuma raíz de G (encontraríamos raízes em comum a cada D raízes de h, sendo D o MDC entre 10 e 1111). Isso é o mesmo que notar que nos polígonos regulares de 10 e 1111 lados centrados na origem com 1 como vértice não possuem outros vértices em comum.

Assim, temos que R(h) inter R(g) = {}.

Agora basta notar que R(g) está contido em R(p). Geometricamente, dos vértices R(P), arrancamos o z=1, e aqueles de h, obtendo R(p). Como R(g) contido em R(G) contido em R(P), e de R(P) não arrancamos nenhum vértice que estivesse R(g) para obter R(p), temos que R(g) contido em R(p).

Em forma de conjuntos, R(P) contém todo mundo: R(g), R(p) e R(h). Temos que R(p) U R(h) = R(P), e R(g) inter R(h) = {}, o que só é possível se todos os elementos de R(g) estiverem dentro de R(p) (já que R(p) e R(h) juntos formam todo o R(P), e não tem nada em comum, e R(g) não tem nada em comum com R(h)). Mesma conclusão: R(g) contém R(h). Mas geometricamente é mais bonito!

Além disso, todas as raízes em questão são simples. Então, segundo o lema acima, existe um polinômio d tal que p = gd.


Ufa!
Espero não ter errado em nada aí!
Ficou grande isso, mas pode ser encurtado bastante, ficando um pouco mais complicado de entender.

Qualquer erro, avise que tentarei arrumar!

Abraço
Bruno



On 5/4/06, J. Renan <jrenan@gmail.com> wrote:
Olá à todos da lista, esse é o primeiro tópico que inicio aqui.  Estudando divisibilidade de polinômios me deparei com o seguinte exercício (a fonte diz que é IME, mas não encontrei esse exercício entre os exercícios do IME):

Prove que o polinômio p(x) = x^9999 + x^8888 + x^7777 + ... + x^1111 + 1 é divisível por g(x)= x^9 + x^8 + x^7 + .... + x^1 + 1

Creio eu que tenha que utilizar a teoria das congruências (mod). agradeço desde já pela ajuda.

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Um Grande Abraço,
Jonas Renan



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Bruno França dos Reis
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e^(pi*i)+1=0