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Re: [obm-l] Uma Curva Interessante
Ola Eduardo e demais
colegas desta lista ... OBM-L,
Eu li algumas mensagens referentes a este tema e vou tentar esclarecer
algumas. Desde ja adianto que nao sou o autor da questao, apenas recebi o
problema e estando sem tempo para pensar numa nova questao isolada decidi
repassar para voces. Segue que nao conheco todos os detalhes...
1) Sei que se A=(Xa,Ya) e B=(Xb,Yb) o campo gravitacional e uniforme, tem a
direcao do eixo OY e esta orientado e cima para baixo, isto e, e como se o
eixo OX fosse a superficie do nosso planeta.
2) Como o corpo esta, a principio, em repouso no ponto A quando e solto e,
alem disso, Xb > Xa e Yb < Ya, segue que ele escorrega pela curva y=f(x)
que queremos determinar e que passa por A e B. Note que o principio de
conversacao da energia garante que a velocidade so depende da "distancia
vertical percorrida"
3) Como o comprimento do escorregador ( o pedaco da curva y=f(x) entre A e B
) e constante e ( igual a L ) maior que a distancia entre A e B, podemos
supor que E SEMPRE POSSIVEL criar um pequeno pedaco inicial QUASE HORIZONTAL
de forma a retardar o movimento, forjando assim um tempo total de percuros
tao grande quanto desejarmos, o que faria o problema ser sem solucao. Por
esta razao, exige-se que y=f(x) seja convexa entre A e B, isto e, se "a" e
"b" estao no intervalo fechado [Xa,Xb] entao :
[ ( f(a)+f(b) )/2 ] > f((a+b)/2)
4) No enunciado original o autor falava :
"Sejam A=(Xa,Ya) e B=(Xb,Yb) tais que Xa < Xb e Ya > Yb. Dentre todas a
funcoes convexas y=f(x) que passam por A e B tais que :
Integral(Xa ate Xb) raiz_quadrada (1 + (f'(x))^2) = L
Encontre aquela sobre a qual um corpo largado em repouso no ponto A
deslizaria em tempo maximo ate B"
foi eu, Paulo Santa Rita, que esqueci de citar a palavra "convexa" e
eliminei a integral simplesmente colocando "comprimento L"
5) Se o problema estiver bem colocado, ele tem o sabor da novidade, pois
sabemos que o arco de cicloide ( baquistocrona ? ) e uma curva de tempo
minimo que foi muito estudada pelos Matematicos do seculo XVII/XVIII.
6) Quando ao problema da poligonal implicitamente citado pelo Eduardo, eu
confesso que nao me lembro totalmente dele, mas vou tentar reproduzi-lo
abaixo :
Considerem o seguinte problema :
Seja P uma linha poligonal de vértices consecutivos V0, V1, ..., Vn tal que
os comprimentos dos seus lados L1, L2, ..., Ln ( Li e o lado obtido ligando
Vi-1 a Vi , i=1,2,...,N ) sejam respectivamente proporcionais aos números 1,
2, ..., N e todos os seus angulos-externos sejam iguais a um angulo medindo
2pi/N radianos ( pi=3,1415... ). Tracando-se o segmento de reta ligando V0 a
Vn, calcular a area da figura fechada formada.
Eu visualizo tres maneiras de faze-lo. Aqui vai a que me parece mais curta (
vou resumir os calculos muito triviais ) :
IMAGINE um poligono regular convexo Q ( POLIGONO DE BASE ) de N lados, de
vértices W0, W1, ..., Wn ( W0=Wn ), centro C1 e cujos lados M1, M2, ..., Mn
( Mi é o lado obtido ligando Wi-1 a Wi, i=1,2,...,N ) tem todos a medida de
L1 e foram construídos de forma que M1 coincide com L1. Tal poligono será
referenciado como POLIGONO DE BASE.
Sejam |L1| = L ( medida de L1 ) e R o raio do circulo que circunscreve o
poligono Q, doravante chamado CIRCULO DE BASE. Claramente que R=V1C1.
Agora, prolongando V1C1 de um segmento C1C2 tal que C1C2=V1C1 e ligando C2 a
V2, teremos que :
1) O ângulo ANG(C1,V1,V2)=ANG(C1,V1,V0), pois sao angulos da base de dois
triangulos isosceles congruentes.
2) V1V2=2*V1V0 por construcao da linha poligonal P
3) V1C2=2*V1C1 pela construcao que fizemos acima.
Segue que o triangulo TRI(V1,V2,C2) e semelhante ao triangulo TRI(V0,V1,C1)
e a razao de semelhanca e 2, vale dizer, a area do triangulo TRI(V1,V2,C2) e
4 vezes a area do triangulo TRI(V0,V1,C1). Mais ainda : o angulo
ANG(V0,C1,C2), sendo angulo externo do triangulo TRI(V0,C1,V1), tem medida
igual a de um ângulo interno do poligono Q
Prolongando V2C2 de um segmento C2C3 tal que C2C3=V1C1 e ligando C3 a V3,
por razoes analogas ao caso visto acima seguira que o triangulo
TRI(V2,V3,C3) e semelhante ao triangulo TRI(V0,V1,C1) e a razao de
semelhanca e 3, vale dizer, a area do triangulo TRI(V2,V3,C3) e 9 vezes a
area do triangulo TRI(V0,V1,C1). E, igualmente, o ângulo ANG(C1,C2,C3) tera
medida igual a de um ângulo interno do poligono Q.
Podemos prosseguir, repetindo o estrutura geral do raciocinio acima para
todos os demais lados da linha poligonal P, isto é, Prolongamos ViCi de um
segmento CiCi+1 tal que CiCi+1=V1C1 e ligamos Ci+1 a Vi ( i=3,4,...,N-1) :
“o triangulo TRI(Vi,Vi+1,Ci+1) sera semelhante ao triangulo TRI(V0,V1,C1) e
a razao de semelhanca e i, vale dizer, a area do triangulo TRI(Vi,Vi+1,Ci+1)
e i^2 vezes a area do triangulo TRI(V0,V1,C1). E, igualmente, o ângulo
ANG(Ci-1,Ci,Ci+1) tera medida igual a de um ângulo interno do poligono Q”
Note que assim cobrimos toda a regiao cuja area procuramos, surgindo no
centro da figura um poligono regular convexo de N lados cujos vertices são
V0,C1,C2,...,Cn-1 e cujo lado tem medida V1C1, isto é, cujo lado tem medida
igual a do raio R do circulo que circunscreve o poligono Q. Isto posto, seja
U a area deste ultimo poligono e T a area do triangulo TRI(V0,V1,C1). Pelo
que vimos, a area “S” que procuramos sera :
S = ( 1 + 2^2 + 3^2 + ... + N^2 )*T + U
S={[N(N+1)(2N+1)]/6}*T + U
E facil ver que :
T=(1/2)*(R^2)*sen(2pi/N)
U=(1/4)*(R^2)*N*cotg(pi/N)
Logo, obtemos uma “formula fechada” para S. Eu acho que era essa "formula
fechada" que o autor do problema queria. Eu agora visualizo duas outras
maneiras diferentes de fazer esta questao, mas elas nao sao curtas e o meu
tempo e. Agora, vou dar um pouco de liberdade a minha imaginacao...
Considerando T e U, e facil ver que ( basta calcular os limites ) :
1) Fixando R e fazendo N tender ao infinito, e claro que S tende ao
infinito, isto e, sob um CIRCULO DE BASE fixo, podemos abarcar qualquer
regiao do plano, bastando para tanto construir uma poligonal P com numero de
lados suficientemente grande.
2) Fixando N e fazendo R tender a zero, e claro que S tende a zero, isto e,
uma poligonal fixa P se reduzira a um ponto na medida em que diminuirmos o
raio R do CIRCULO DE BASE.
Os dois fenomenos descritos acima são previsiveis, desinteressantes portanto
... Haveria uma forma de SIMULTANEAMENTE aumentarmos o numero de lados da
poligonal (N tender ao infinito) e diminuir o raio do CIRCULO DE BASE (R
tender a zero) de maneira que a area S se estabilizasse, vale dizer, que a
area S convergisse para algum valor ?
A resposta e “SIM”. Dentre inumeras possibilidades uma e evidente, qual
seja, impor que o raio do circulo circunscrito ao poligono de vertices
V0,C1,C2,...,Cn-1, doravante chamado de CIRCULO GERADO, mantenha-se
constante ... pois neste caso a area U mencionada acima claramente tendera a
area do CIRCULO GERADO e verificaremos a posteriori que a outra parte da
area S tambem se estabilizara.
Para ver tudo isso, notemos que o raio do CIRCULO GERADO :
r=(R/2)*cosec(pi/N)
onde “R” e o raio do CIRCULO DE BASE e “cosec” e cossecante. Para manter “r”
constante, fazemos, por exemplo, r=1. Teremos :
R=2*sen(pi/N)
Isto significa que num CIRCULO DE BASE de raio R=2*sen(pi/N) vamos inscrever
um POLIGONO DE BASE de N lados e, a seguir, com base neste poligono,
construimos a linha poligonal P de forma semelhante ao que fizemos acima.
Assim, quando N tende ao infinito, SIMULTANEAMENTE, R tende a zero e a area
U do CIRCULO GERADO se estabiliza em pi*(r^2)=pi*(1^2)=pi. Precisamos agora
verificar se a área S tambem se estabiliza.
Fazendo R=2*sen(pi/N) em T=(1/2)*(R^2)*sen(2pi/N) e facil ver que o limite
de A=( 1 + 2^2 + 3^2 + ... + N^2 )*T e :
LIM A = LIM( 1 + 2^2 + 3^2 + ... + N^2 )*T = (4/3)*(pi^3)
Portanto, a area S se estabiliza em U + A = pi + (4/3)*(pi^3)
Evidente que o valor que acabamos de calcular depende da escolha que
fizermos para “r”, o raio do CIRCULO GERADO. Neste caso haviamos escolhido
r=1. Alguem pode desejar encontrar S para um r arbitrario, o que e um
simples calculo de limite ...
Em que curva ( uma evidente espiral ) se transformou a poligonal P após a
passagem ao limite ?
Nao tenho tempo para considerar esta questao, mas a minha sensibilidade diz
que trata-se da involuta do circulo. Alguem consegue provar isso ?
Falando em involuta do circulo me lembrei de um antigo problema que passo
pra voces :
Seja R o raio de um circulo que imaginamos como um pasto. Na circunferencia
deste circulo fixamos uma estaca na qual vamos amarrar um cavalo. Precisamos
determinar o comprimento da corda que prendera o cavalo de forma que ele
possa comer exatamente a metade ...
Esse problema e trivial, velho e bem conhecido. Mas ele exige metodos
numericos para a sua solucao.
Usando a involuta do circulo, encontre uma forma diferente de faze-lo de
maneira que a corda possa ser determinada exatamente.
A lembranca do colega Eduardo Wilner me levou a parar e pensar um pouco
nestes problemas, razao pela qual dedico a ele esta mensagem.
A todos os outros,
com os melhores votos
de paz profunda, sou
Paulo Santa Rita
4,1054,080206
>From: Eduardo Wilner <eduardowilner@yahoo.com.br>
>Reply-To: obm-l@mat.puc-rio.br
>To: obm-l@mat.puc-rio.br
>Subject: Re: [obm-l] Uma Curva Interessante
>Date: Tue, 7 Feb 2006 20:20:37 +0000 (GMT)
>
>
>
> Prezado Paulo.
>
> O problema eh estranho: um corpo submetido exclusivamente ao seu
>peso descreve uma trajetória retilínea, se a velocidade inicial for
>vertical ou nula, ou parabólica se a velocidade inicial for inclinada.
>Pode esclarecer?
>
> E por falar nisso, curva lembra poligonal e polignal nao te lembra
>nada ?
> (Desculpe a "forçada")
>
> Viva.
>
> Wilner
>
>
>
>Paulo Santa Rita <paulosantarita@hotmail.com> escreveu: Ola Pessoal,
>
>Alguem me propos o seguinte problema :
>
>"Dentre todas as curvas de mesmo comprimento L que ligam dois pontos A e B
>de um plano, determinar aquela em que um corpo submetido exclusivamente ao
>campo gravitacional da terra (suposto constante ) gasta o tempo maximo para
>ir de A para B."
>
>NOTA : Se A=(Xa,Ya) e B=(Xb,Yb) sao as coordenadas de A e B suponha que Xb
> >
>Xa e
>Yb < Ya. Tambem suponha que :
>
>distancia entre A e B < L < (Xb - Xa) + (Ya - Yb)
>
>Parece ser um problema interessante, nao trivial. Como estou sem tempo pra
>pensar nele, estou passando pra voces.
>
>Um Abraco a Todos
>Paulo Santa Rita
>3,1414,070206
>
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