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Para onde vai o ensino médio?
Colegas da Lista,
Recebi o e-mail abaixo de um colega de outra lista de que participo e achei
que seria oportuno mostrar a todos, dado que seus argumentos, nao obstante
relativos a Fisica, me parecem que podem ser aplicados com justeza a
ciencia que tanto prezamos, a Matematica.
>>From: "Rafael Sá" <rafaelsa@gbl.com.br>
>>To: "Alberto Santoro (LAFEX)" <santoro@lafex.cbpf.br>, "Paulo Santa Rita"
>><p_ssr@hotmail.com>, "Alex
>>Medeiros" <geotech@infolink.com.br>, "Antônio Vilela Pereira"
>><anvilela@email.iis.com.br>, "Felipe Lopes Fraga"
>><azrael@rio.com.br>, "Glauco Carvalho" <gcarv@domain.com.br>,
>>"Mariano Sumrell Miranda" <mariano@lafex.cbpf.br>, "Raphael Carlos
>>Machado" <raphaelmachado@yahoo.com>, "Renata"
>><rodriguesrf@yahoo.com>, "Sérgio Marques"
>><germa@rio.nutecnet.com.br>, "Tatiana Freitas"
>><tutuca@domain.com.br>, "Vitor" <v_fsr@hotmail.com>
>>Subject: Para onde vai o ensino médio?
>>Date: Tue, 2 Nov 1999 08:55:19 -0200
>>
>> >>> LEIA E REFLITA
>>
>> Encontramos, no InformANDES n. 89, um oportuno artigo sobre a
>>retirada
>>da Filosofia do ensino médio e a favor da reinclusão desta matéria nos
>>vestibulares. Sua leitura evoca outras alterações históricas efetuadas no
>>ensino médiobrasileiro ao longo dos tempos e uma questão impõe-se de
>>imediato: haveria algum tipo de correlação entre tais alterações?
>> Sem aprofundar pesquisas e confiando apenas na memória, situo o
>>iníciodessas alterações no começo dos anos 60, antes ainda dos chamados
>>anos de chumbo do governo militar. Naquela ocasião, foram descartados não
>>só a Flosofia, mas também o Latim, o Francês e o Espanhol, este último
>>reabilitado hoje, por interesses econômicos (não culturais - como
>>deveria).
>>Mais tarde, já nos anos 70, outra alteração digna de nota: a introdução da
>>chamada Matemática Moderna. Agora estamos na iminência de presenciar mais
>>uma exclusão histórica: a da Física, cuja redução de carga horária e de
>>importância na formulação dos currículos já é notória.
>> A situação da Física é hoje, no mínimo, paradoxal. Vivemos imersos em
>>uma parafernália tecnológica constituída, basicamente, de sensores,
>>transdutores, atuadores e micropocessadores, sem os quais continuaríamosno
>>mundo das válvulas dos anos 50, no qual um prédio de razoáveis dimensões,
>>dotado de complicados sistemas de refrigeração, seria necessário para
>>abrigar um computador rudimentar. E todas essas facilidades modernas
>>devem-se, sem dúvida, ao grande sucesso de um dos mais importante ramo da
>>Física contemporânea, a chamda Física da Matéria Condensada, que constitui
>>a base da moderna Ciência dos Materiais. Não seria exagero dizer-se que
>>nosso "modus vivendi"é determinado, basicamente, pelos progresso da Física
>>e pelo sucesso da atividade dos físicos. No entanto, paraxodalmente, saber
>>Física afigura-se cada vez menos útil e, até mesmo, menos viável, tanto
>>para o cidadão comum como para os profissionais das áreas técnicas.
>>Qualquer pessoa pode dominar o mais moderno microcomputador e todos os
>>seus
>>complicadosperiféricos sem conhecer absolutamente nada dessa Física da
>>Matéria Condensada, que constitui o referêncial teórico sobre o qual se
>>assenta a descrição do funcionamento dos "chips" de que seu computador é
>>feito. Nesse mesmo raciocínio, engenheiros de tpdas as especialidades
>>podem
>>usar, em seus todos os seus projetos, os recursos da mais moderna
>>tecnologia, sem conhecer os princípios básicos de funcionamento dos
>>dispositivos e dos equipamentos existentes no mercado a seu dispor. Por
>>outro lado, a própria Engenharia sofre alterações essenciais, estando
>>atualmente muito voltada para aspectos relacionados à administração, ao
>>gerenciamento e ao controle de processos de produção (triste, não). Em
>>conseqüência, o ensino da Física tende a perder importância na formação
>>dos
>>futuros engenheiros e já há, mesmo, quem a considere uma espécie de
>>entulho
>>nos currículos dos cursos de Engenharia.
>> Perdendo a Física importância nos cursos de Engenharia, perderá peso
>>específico nos vestibulares e, devido à notória influência nesses exames
>>sobre o ensino médio, justifica-se nosso temor de que ela venha a ser
>>simplesmente excluída.
>> É nesse ponto que retomamos a conjetura inicial: haverá algum tipo de
>>correlação entre essas alterações históricas ocorridas no ensino médio
>>brasileiro? O Latim era nosoi vínculo com nossas raízes culturais mais
>>profundas. A exclusão da Filosofia veio também a serviço de uma educação
>>mais pragmática, novamente em detrimento de valores culturais tais como o
>>desenvolvimento do senso crítico e da autonomia intelectual do indivíduo.
>>A
>>chamada Matemática Moderna não trouxe, de fato, nenhum benifício ao ensino
>>da Matemática. Ao contrário, desorganizou-o, desestruturou-o e, indo na
>>direção contrária ao pragmatismo das alterações anteriores, foi, na
>>verdade, responsável pelo despreparo em Matemática hoje observado nos
>>estudantes universitários de qualquer carreira e nas pessoas em geral. A
>>exclusão da física configura um complemento perfeito para esse quadro:
>>seria um rompimento cultural do cidadão brasileiro com as raízes da
>>civilização tecnológica em que vive. Assim como a cultura filosófica, a
>>científica é essencial para a formação de um cidadão socialmente melhor
>>adaptado, funcionalmente mais habilitado e intelectualmente mais capaz de
>>discernir e assumir posicionamentos conscientes.
>> Vistas assim, essas alterações parecem configurar um plano cuja
>>execução perpassa governos e transence regimes político e cujo propósito é
>>romper nosso vínculos histórico com a latinidade e com a Europa e
>>tornar-nos ináptos para o avanço científico e tecnológico, colocando-nos à
>>mercê de uma nova colonização cultura, tecnológica, econômica e social.
>>Uma
>>mera conjetura, sem dúvida: é improvável a existência de um tal plano
>>maquiavélico contra nosso país. Mas as conseqüências danosas ao nosso
>>futuro como nação serão as mesmas.
>>
>>Paulo Henrique Dionisio
>>Professor Titular da UNISINOS
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