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P3 de Álgebra Linear I - 2002.1
Data: 7 de junho de 2002.

Gabarito

1) Decida se cada afirmação a seguir é verdadeira ou falsa e marque com caneta sua resposta no quadro abaixo. Atenção: responda todos os itens, use "N = não sei" caso você não saiba a resposta. Cada resposta certa vale 0.3, cada resposta errada vale -0.2, cada resposta N vale 0. Respostas confusas e ou rasuradas valerão -0.2.

1.a) Seja A uma matriz simétrica inversível. Então sua inversa também é simétrica.



Verdadeiro: Observe que todo autovetor u de A é autovetor de A-1(se $A(u)=\lambda \, u$ então $A^{-1}(u)=\lambda^{-1}\, u$). Portanto, como A é simétrica, possui uma base ortonormal de autovetores, que também são autovetores de A-1, e isto carateriza ser simétrica.

Outra forma de justificar, seja B a inversa de A. Então AB=I=BA. Logo

\begin{displaymath}(AB)^t=I^t=(BA)^t, \quad
B^t A^t=I= A^t B^t.
\end{displaymath}

Mas At=A, logo BtA=I, donde

Bt=BtA B=IB=B.

1.b) A multiplicação de duas matrizes simétricas é uma matriz simétrica.



Falso: Considere o produtos

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{cc}
1 & 2\\
2 & 1
\end{array}\right)
\l...
...
=
\left(
\begin{array}{cc}
0 & 1\\
0 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

1.c) Sejam A uma matriz $3\times 3$ e D uma matriz diagonal tais que A=P D P-1 (onde P é uma matriz $3\times 3$inversível). Então A é simétrica.



Falso: Existem matrizes que são diagonalizáveis (ou seja, satisfazendo o enunciado) que não são simétricas. Por exemplo, a matriz

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 & 0\\
1 & 2 &0\\
1 & 2& 3
\end{array}\right)
\end{displaymath}

é diagonalizável (possui três autovalores diferentes, 1, 2 e 3) e não é simétrica.

Ou de outra forma,

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
&
\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &1\\
0 ...
...& 0 &-1\\
0 & 0& 0\\
0 & 0 &0
\end{array}\right).
\end{array}\end{displaymath}

1.d) Seja A uma matriz $3\times 3$ diagonalizável. Suponha que B=P A P-1 (onde P é uma matriz $3\times 3$inversível). Então B é diagonalizável.



Verdadeiro: É exatamente a definição matriz diagonalizável: ser semelhante a uma matriz diagonal. Observe que A=MDM-1 onde D é diagonal, logo

B=PM DM-1P-1= (PM) D (PM)-1.

1.e) Sejam A uma matriz $3\times 3$ e $\sigma$ e $\lambda$ autovalores de A. Então $\sigma+\lambda$ é um autovalor de A.



Falso: Considere

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
1 & 0\\
0 & 2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Temos que 1 e 2 são autovalores e que 1+2=3 não é autovalor.

1.f) Seja R uma rotação de $\mathbb{R} ^3$ de ângulo $\alpha$ e eixo de rotação a reta r que contém a origem. Então, para todo vetor não nulo u de $\mathbb{R} ^3$, se verifica que o ângulo entre u e R(u) é $\alpha$.



Falso: A afirmação somente é verdadeira se o vetor é perpendicular ao eixo de rotação. Por exemplo, se u é paralelo ao eixo, independentemente do ângulo de rotação, se verifica R(u)=u. Portanto, o ângulo entre u e R(u) é zero.

1.g) Seja A uma matriz ortogonal $3\times 3$. Então o determinante de A é $\pm 1$.



Verdadeiro: Sejam u, v e w os vetores coluna da matriz. Então, o valor absoluto do determinante de A é $\vert u\cdot (v\times w)\vert$, que é o volume do paralelepípedo de arestas u, v e w. Como estes vetores são ortogonais e unitários, dito volume é 1.

Outra forma,

\begin{displaymath}A^t A=I,
\quad
\vert A\vert^2=\vert A^t\vert\vert A\vert=\vert I\vert=1.
\end{displaymath}

Logo $\vert A\vert=\pm 1$.

1.h) Seja A uma matriz diagonalizável. Então A3 também é diagonalizável.



Verdadeiro: É suficiente provar que existe uma base de autovetores de A3. Como A é diagonalizável, existe uma base de autovetores de A, $\beta=\{u, v, w\}$ com $A(u)=\lambda \, u$, $A(v)=\sigma \, v$ e $A(w)=\tau \, w$(onde $\lambda$, $\sigma$ e $\tau$ não são necessariamente diferentes). Temos $A^3(u)=\lambda^3 \, u$, $A^3(v)=\sigma^3 \, v$ e $A^3(w)=\tau^3 \, w$. Portanto, u, v e w são autovetores de A3, assim $\beta$ é uma base de autovetores de A3 e A3é diagonalizável.

Outra forma,

\begin{displaymath}A=PDP^{-1},
\quad
A^3=PDP^{-1}PDP^{-1}PDP^{-1},=PD^3P^{-1}.
\end{displaymath}

Como D3 é diagonal, se segue a afirmação.

1.i) Seja A uma matriz $2\times 2$ ortogonal e simétrica. Então A é a identidade ou representa um espelhamento.



Falso: Considere

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
-1 & 0\\
0 & -1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Itens V F N  
1.a v      
1.b   f    
1.c   f    
1.d v      
1.e   f    
1.f   f    
1.g v      
1.h v      
1.i   f    

2) Considere a matriz

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
1/2 & a\\
b & c
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Determine
(2.a) a, b e c para que A represente uma projeção ortogonal,
(2.b) a, b e c para que A represente um espelhamento,
(2.c) a, b e c para que A represente uma rotação.

Considere agora a matriz B

\begin{displaymath}B=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/3 & a &b\\
1/3 & c &d\\
1/3 & e & f
\end{array}\right).
\end{displaymath}

(2.d) Determine a, b, c, d, e e fpara que B represente uma projeção ortogonal em uma reta.
(2.e) Determine a reta de projeção de B.

Resposta: No caso da projeção. A matriz tem traço 1 (a soma dos autovalores 1 e 0). Logo c=1/2. Como a matriz é simétrica, temos a=b. Como tem determinante zero, temos a2=1/4. Logo $a=\pm 1/2$. Logo existem duas possibilidades,

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
1/2 & 1/2\\
1/2 & 1/2
\end{array...
...\begin{array}{cc}
1/2 & -1/2\\
-1/2 & 1/2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Para o espelhamento, a matriz tem traço 0 (a soma dos autovalores 1 e -1). Logo c=-1/2. Como a matriz é simétrica, temos a=b. Como é ortogonal, temos $b=\pm \sqrt{3}/2$. Logo existem duas possibilidades,

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
1/2 & \sqrt{3}/2\\
\sqrt{3}/2 & ...
...c}
1/2 & -\sqrt{3}/2\\
-\sqrt{3}/2 & -1/2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Finalmente, para o caso da rotação, a matriz deve ser ortogonal e não simétrica. Portanto, pelos argumentos acima, temos duas possibilidades,

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{cc}
1/2 & \sqrt{3}/2\\
-\sqrt{3}/2 &...
...{cc}
1/2 & -\sqrt{3}/2\\
\sqrt{3}/2 & 1/2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Para a matriz $3\times 3$. Como se trata de uma projeção ortogonal, a matriz deve ser simétrica. Ou seja a=b=1/3. Como se trata de uma projeção em uma reta, temos que $(a,c,e)=\lambda (1/3, 1/3, 1/3)$e $(b ,d,f)=\sigma (1/3, 1/3, 1/3)$. De a=b=1/3 obtemos $\lambda=\sigma=1$. Logo

\begin{displaymath}B=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/3 & 1/3 &1/3\\
1/3 & 1/3 &1/3\\
1/3 & 1/3 & 1/3
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Finalmente, como B(1,0,0)=(1/3,1/3,1/3) é paralelo à reta r de projeção, temos r=(t,t,t), $t\in \mathbb{R} $.

3) Considere a transformação linear $T\colon \mathbb{R} ^3\to \mathbb{R} ^3$tal que

\begin{displaymath}T(1,1,1)=(-1,-1,-1),
\quad
T(1,1,-2)=(1,1,-2).
\end{displaymath}

Sabendo que a matriz de T é simétrica e possui determinante zero:

(3.a) Determine os autovalores de T.
(3.b) Determine uma base de autovetores de T.
(3.c) Escreva T da forma T=PD P-1 onde D é uma matriz diagonal.
(3.d) Calcule explicitamente T1000.

Resposta: Das hipóteses T(1,1,1)=(-1,-1,-1)=-1(1,1,1) e T(1,1,-2)=(1,1,-2) temos que 1 e -1 são autovalores. Como o determinante é nulo e é igual ao produto dos autovalores, o terceiro autovalor é 0.

Já conhecemos dois autovetores. Como a matriz é simétrica, o terceiro autovalor deve ser perpendicular aos outros dois, ou seja, paralelo a $(1,1,1)\times (1,1,-2)=(-3,3,0)$. Logo uma base de autovetores é $\beta=\{(1,1,1), (1,1,-2), (1,-1,0)$.

Escolhendo a base ortonormal de autovetores

\begin{displaymath}\gamma=\{(1/\sqrt{3},1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}),
(1/\sqrt{6},1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6}), (1/\sqrt{2},-1/\sqrt{2},0).
\end{displaymath}

Observe que na base $\gamma$ a matriz de T é diagonal:

\begin{displaymath}D=
\left(
\begin{array}{ccc}
-1 & 0 &0\\
0 & 1 &0\\
0 & 0 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Logo

[T]=P D P-1,

onde

\begin{displaymath}P=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/\sqrt{3} & 1/\sqrt{6} &1/\sqrt...
...1/\sqrt{2}\\
1/\sqrt{3} & -2/\sqrt{6} & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Como P é ortogonal, temos

P-1=Pt.

Finalmente,

T1000=P D1000 P-1.

Observe que

\begin{displaymath}D^{1000}=
\left(
\begin{array}{ccc}
(-1)^{1000} & 0 &0\\
0 &...
...ay}{ccc}
1 & 0 &0\\
0 & 1 &0\\
0 & 0 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Logo

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
T^{1000}&=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/\sqr...
...&0\\
1/2 & 1/2 &0\\
0 & 0 &1
\end{array}\right).
\end{array}\end{displaymath}

Veja que o resultado é coerente: uma matriz simétrica com traço 2.

4) Determine quais das matrizes a seguir são diagonalizáveis. Nos caso afirmativos encontre uma base de autovetores e uma forma diagonal das matrizes.

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
1 & 2 &0\\
1 & 1 & ...
...ay}{ccc}
1 & 0 &0\\
1 & 2 &0\\
1 & 1 & 1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Resposta: A matriz A é triangular. Seus autovalores são os elementos da diagonal, ou seja, 1, 2 e 3. Como são diferentes, é diagonalizável, e sua forma diagonal é

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0& 2 &0\\
0 & 0 & 3
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Seus autovetores são as soluções não triviais dos seguintes sistemas:


$\lambda=1$,

\begin{displaymath}x=x, \quad
x+2y=y,\quad
x+y+3z=z.
\end{displaymath}

Uma solução não trivial é (1,-1,0).


$\lambda=2$,

\begin{displaymath}x=2x, \quad
x+2y=2y,\quad
x+y+3z=2z.
\end{displaymath}

Uma solução não trivial é (0,1,-1).


$\lambda=3$,

\begin{displaymath}x=3x, \quad
x+2y=3y,\quad
x+y+3z=3z.
\end{displaymath}

Uma solução não trivial é (0,0,1).

Logo uma base de autovetores é $\beta=\{(1,-1,0),(0,1,-1), (0,0,1)\}$.


A matriz B é simétrica. Portanto, é diagonalizável. Seu polinômio característico é

\begin{displaymath}p(\lambda)=
\lambda^2 (1-\lambda)+\lambda
=
\lambda( \lambda -\lambda^2+1).
\end{displaymath}

Ou seja, os autovalores são 0 e $1/2(1\pm \sqrt{5})$. Verificamos que uma base de autovetores é

\begin{displaymath}\{(0,1,0), ((1+\sqrt{5})/2,0,1)
((1-\sqrt{5})/2,0,1)\}.
\end{displaymath}

Finalmente, sua forma diagonal é

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
0 & 0 &0\\
0& (1+\sqrt{5})/2 &0\\
0 & 0 & 1/2(1-\sqrt{5})/2
\end{array}\right).
\end{displaymath}


Finalmente, a matriz Cé triangular. Seus autovalores são os elementos da diagonal, ou seja, 1 (duplo) e 2. Para calcular os autovetovetores associados a 1resolvemos

x+y=0.

Que fornece dois autovetores l.i. (0,0,1) e (1,-1,0). Finalmente, para os autovetores associados a 2resolvemos

\begin{displaymath}-x=0,
\quad
x+y-z=0.
\end{displaymath}

Logo (0,1,1) é autovetor. Uma base de autovetores é

\begin{displaymath}\{ (0,0,1), (1,-1,0), (0,1,1)\}.
\end{displaymath}

Finalmente, uma forma diagonal é

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0& 1&0\\
0 & 0 & 2
\end{array}\right).
\end{displaymath}



 
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Lorenzo J. Diaz
2002-06-07