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P3 de Álgebra Linear I - 2001.2

Data: Sábado, 24 de novembro de 2001.

Gabarito

1) Seja $T\colon \mathbb{R} ^3 \to \mathbb{R} ^3$ uma transformação linear ortogonal. Suponha que o determinante da matriz de T na base canônica é -1 e que

\begin{displaymath}T(1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3})=
(-1/\sqrt{2}, 0, 1/\sq...
...qrt{2}, 0, 1/\sqrt{2})=
(1/\sqrt{6}, -2/\sqrt{6}, 1/\sqrt{6}).
\end{displaymath}

a) Determine um autovalor de T.
b) Determine T(1,-2,1).
c) Determine T(1,0,0).
d) Determine a matriz de T em uma base ortonormal (v. escolhe a base e deve especifica-la).


Resposta: Afirmamos que (sem necessitar saber quem é T) um autovalor de T é -1. Observe que, como T é uma transformação de $\mathbb{R} ^3$, seu polinômio característico tem grau 3. Portanto, tem uma raiz real (correspondendo a um autovalor de T). Como T é ortogonal, os autovalores têm módulo 1. Logo existe um autovalor real igual a 1 ou -1. Se é -1 não temos mais nada que ver. Caso contrário as possibilidades são: um autovalor 1 com multiplicidade três, ou um autovalor 1 e dois autovalores complexos (não reais) conjugados de módulo 1, digamos $\lambda$ e $\bar \lambda$. Como o determinante de T é o produto dos autovalores (contados com multiplicidade), no primeiro caso o determinante é 1, o que é absurdo. No segundo caso o determinante vale $1 \lambda \bar\lambda=
\vert\lambda\vert^2=1$, o que também é absurdo.


Observe que (1,1,1), (-1,0,1) e (1,-2,1) são vetores ortogonais. Portanto, como T é ortogonal, T(1,1,1) e T(1,-2,1) são ortogonais. Analogamente, T(-1,0,1) e T(1,-2,1) também são ortogonais. Logo T(1,-2,1) é paralelo a $T(1,1,1)\times T(-1,0,1)$. Logo T(1,-2,1) é paralelo a $(-1,0,1)\times (1,-2,1)=(2,2,2)$. Isto é, T(1,-2,1) é paralelo a (1,1,1). Portanto, como T é ortogonal, conserva módulos, e temos que

\begin{displaymath}T(1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6})=
\pm (1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}).
\end{displaymath}

Devemos decidir o sinal $\pm$ (um sinal correspondera a determinante igual a 1e o utro a determinante igual a -1).

Para isto considere a base ortonormal $\beta=\{u,v,w\}$ onde

\begin{displaymath}\beta=
\{(1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}),
(-1/\sqrt{2},0,1/\sqrt{2}),
(1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6})\}.
\end{displaymath}

Observe que T(u)=v e T(v)=w. Se T(w)=u (isto é, tomamos o sinal positivo) a matriz de T na base $\beta$ é

\begin{displaymath}[T]_\beta
=\left(
\begin{array}{ccc}
0 &0 & 1\\
1 &0 & 0\\
0 &1 & 0\\
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Observe que o determinante da matriz anterior é 1. Observe que a matriz de T na base canônica é semelhante a $[T]_\beta$, portanto estas matrizes têm o mesmo determinante. Logo em tal caso o determinante de T é 1. O que é absurdo. Logo a matriz de T na base $\beta$ é

\begin{displaymath}[T]_\beta
=\left(
\begin{array}{ccc}
0 &0 & -1\\
1 &0 & 0\\
0 &1 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Ou seja,

\begin{displaymath}T(1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6})=
- (1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}).
\end{displaymath}

Isto é,

\begin{displaymath}T(1,-2,1)=
-\sqrt{6} (1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}),
\end{displaymath}

pois $\vert\vert T(1,-2,1)\vert\vert=\vert\vert(1,-2,1)\vert\vert=\sqrt{6}$.


Observe que também resolvemos o item (d).


Finalmente, para determinar T(1,0,0), escreva,

\begin{displaymath}(1,0,0)=
x
(1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3})+ y
(-1/\sqrt{2},0,1/\sqrt{2})+ z
(1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6}).
\end{displaymath}

Como a base é ortonormal,

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
x&= (1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3})\cdo...
...6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6})\cdot (1,0,0)=1/\sqrt{6}.
\end{array}\end{displaymath}

Logo

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
T(1,0,0)&=
(1/\sqrt{3})\,
T(1/\sqrt{3},1/\...
...1/\sqrt{6})\, T(1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6},1/\sqrt{6}).
\end{array}\end{displaymath}

Ou seja

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
T(1,0,0)=&
(1/\sqrt{3}) \,(-1/\sqrt{2},0,1/...
...(1/\sqrt{6})\,
(1/\sqrt{3},1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}).
\end{array}\end{displaymath}

Portanto,

\begin{displaymath}T(1,0,0)=
\frac{1}{\sqrt{36}}\,
(-\sqrt{6}-\sqrt{3}-\sqrt{2},,-\sqrt{2}+2\sqrt{3},
\sqrt{6}-\sqrt{3} -\sqrt{2}).
\end{displaymath}

2) Seja A uma matriz $3\times 3$. Suponha que

\begin{displaymath}\det (A-\lambda I)=
-(\lambda-3)^2(\lambda-2).
\end{displaymath}

a) Estude se A é inversível.
b) Estude se A pode ser encontrada de maneira que A seja semelhante à matriz diagonal

\begin{displaymath}D=
\left(
\begin{array}{ccc}
2 & 0 &0\\
0 &2& 0\\
0 & 0& 3
\end{array}\right),
\end{displaymath}

isto é, A=P D P-1.
c) Estude se A pode ser encontrada de maneira que A seja semelhante à matriz

\begin{displaymath}D=
\left(
\begin{array}{ccc}
3 & 1 &0\\
1 &3& 0\\
0 & 0& 2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

d) Suponha agora que A é simétrica. Estude se A pode ser encontrada de maneira que seja semelhante à matriz

\begin{displaymath}D=
\left(
\begin{array}{ccc}
3 & 1 &0\\
0 &3& 0\\
0 & 0& 2
\end{array}\right).
\end{displaymath}


Resposta: A matriz A sim é inversível. Os autovalores de A são as raizes do polinômio característico. Ou seja 2 e 3 (com multiplicidade dois). Podemos ver que A é inversível de duas formas: primeiro, como A não tem autovalor zero é inversí'vel. Ou de outra forma, como o determinante de A é o produto dos autovalores contados com multiplicicade, no caso 18. Como o determinante é não nulo é inversível.


A resposta ao item (b) é negativa. Podemos ver isto de duas formas. Duas matrizes semelhantes têm o mesmo determinante. O determinante de A é 18, como vimos, o de D é 12. Logo não são semelhantes.

De outra forma, as matrizes semelhantes têm os mesmos autovalores com a mesma multiplicidade. Mas a matriz D tem o autovalor 2 com multiplicidade 2 e 3com multiplicidade 1. Logo não são semelhantes.


Para o item (c) a resposta é novamente negativa. Um método é calcular os determinantes. Veja que o determinante de D é $16\ne 18$.

Outra forma, veja que D tem polinômio característico $(\lambda-2) ((\lambda-3)^2-1)=
(\lambda-2)^2(\lambda-4)$. Logo seus autovalores são 4 e 2, que são diferentes dos autovalores de A. Portanto, as matrizes não são semelhantes.


Finalmente, a resposta ao item (d) é negativa. Toda matriz simétrica é diagonalizável. Portanto, A somente pode ser semelhante a matrizes diagonalizáveis. Mas a matriz D do item (d) não é diagonalizável. Seus autovalores são 3 (multiplicidade 2) e 2 (para ver isto observe que D é triangular). Mas para 3 somente podemos encontrar um autovetor linearmente independente: Os autovetores de autovalor 3 verificam (D-3I)(v)=(0,0,0), ou seja

\begin{displaymath}y=0, \quad -z=0,
\end{displaymath}

ou seja, os autovalores são da forma (t,0,0), $t\in \mathbb{R} $, $t\ne 0$, isto é, somente é possível encontrar dois autovetores l.i. de D, logo não é diagonalizável.

3) Estude que tipo de transformações representam as matrizes.

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/\sqrt{2} & 1/\sqrt{6} &1/\sqrt...
...6}\\
1/\sqrt{3} & -1/\sqrt{3}& 1/\sqrt{3}
\end{array}\right).
\end{displaymath}


\begin{displaymath}B=\left(
\begin{array}{ccc}
-1/\sqrt{2} & -1/\sqrt{6} &-1/\sq...
...6}\\
1/\sqrt{3} & -1/\sqrt{3}& 1/\sqrt{3}
\end{array}\right).
\end{displaymath}


\begin{displaymath}C=
\frac{1}{3}
\left(
\begin{array}{ccc}
2 & -1 &-1\\
-1&2& -1\\
-1 & -1& 2
\end{array}\right).
\end{displaymath}

No casos envolvendo projeções determine a reta ou plano de projeção, nos casos envolvendo espelhamentos determine o plano ou reta de espelhamento, e nos casos envolvendo rotações determine o ângulo e o eixo de rotação.


Resposta: Observe que a matriz

\begin{displaymath}E=
\left(
\begin{array}{ccc}
\sqrt{2}/2 & -\sqrt{2}/2 &0\\
\...
...box{sen}\,\pi/4 & \cos \pi/4& 0\\
0 & 0& 1
\end{array}\right)
\end{displaymath}

representa, na base canônica uma rotação de ângulo $\pi/4$ em torno do eixo $\mathbb{Z} $. Analogamente, dada uma base ortonormal $\{e_1,e_2,e_3\}$, a matriz E (na base $\beta$) representa uma rotação de ângulo $\pi/4$ e eixo paralelo ao vetor e3.

Considere agora a base canônica $\cal{E}$ e a base ortonormal $\gamma$ dada por

\begin{displaymath}\gamma=\{
(1/\sqrt{2},1/\sqrt{2},0),
(1/\sqrt{6}, -1/\sqrt{6},-2/\sqrt{6}),
(1/\sqrt{3}, -1/\sqrt{3}, 1/\sqrt{3}).
\end{displaymath}

Observe que a matriz ortogonal

\begin{displaymath}P=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/\sqrt{2} & 1/\sqrt{2} &0\\
1/...
...{6}\\
1/\sqrt{3} & -1/\sqrt{3}& 1/\sqrt{3}
\end{array}\right)
\end{displaymath}

representa a matriz de mudança de base da base canônica à base $\gamma$.

Observe que P-1=Pte que

\begin{displaymath}P^{-1}=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/\sqrt{2} & 1/\sqrt{6} &1/...
... -1/\sqrt{3}\\
0 & -2/\sqrt{6}& 1/\sqrt{3}
\end{array}\right)
\end{displaymath}

representa a mudança de base da base $\gamma$ à base canônica. Logo

A=P-1 E P

representa uma rotação de ângulo $\pi/4$e eixo a reta (t,-t,t), $t\in \mathbb{R} $.


Para a segunda matriz observe que

\begin{displaymath}B= T \,
A,
\quad
T=
\left(
\begin{array}{ccc}
-1& 0&0\\
0& 1& 0\\
0 & 0& 1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Claramente T representa o espelhamento no plano x=0. Logo B representa uma rotação de ângulo $\pi/4$e eixo a reta (t,-t,t), $t\in \mathbb{R} $ seguida de um espelhamento no plano x=0.


Finalmente, observe que a matriz C, é simétrica, não ortogonal (o produto escalar das duas primeiras colunas é não nulo) e tem traço 1/3(2+2+2)=6/3=2. Logo a matriz C é candidata a representar uma projeção em um plano (espelhamentos e rotações correspondem a matrizes ortogonais, e projeções ortogonais em um plano têm traço 1). Em tal caso, C(1,0,0) e C(0,1,0) pertencem ao plano de projeção, logo (2,-1,-1) e (-1,2,-1) seriam dois vetores paralelos ao plano. Verifiquemos que C(2,-1,-1)=(2,-1,-1) e C(-1,2,-1)=(-1,2,-1):

\begin{displaymath}\frac{1}{3}
\left(
\begin{array}{ccc}
2 & -1 &-1\\
-1&2& -1\...
...)=
\left(
\begin{array}{ccc}
2\\
-1\\
-1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Analogamente,

\begin{displaymath}\frac{1}{3}
\left(
\begin{array}{ccc}
2 & -1 &-1\\
-1&2& -1\...
...)=
\left(
\begin{array}{ccc}
-1\\
2\\
-1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Portanto, o outro autovalor de C é zero ($\lambda=1$ tem multiplicidade dois e o traço é 2) e o vetor normal ao plano $\pi$paralelo aos vetores acima é um autovetor (lembre que A é simétrica), este vetor é (1,1,1). Logo C representa uma projeção. ortogonal no plano x+y+z=0.

4) $\,$

a) Seja A uma matriz simétrica $3\times 3$. Sabendo que A2001=-I(I é a matriz identidade), determine A.
b) Estude se existe uma matriz simétrica $3\times 3$, B, tal que B2000=-I.
c) Estude se é verdadeira a afirmação seguinte: Seja C uma matriz $3\times 3$ tal que C5=0. Então Cé a matriz zero.


Resposta: Para o item (b) a resposta é negativa: $\det(B^{2000})=(\det(B))^{2000}$, que é um número não negativo (2000 é par!). Mas se a matriz menos identidade $3\times 3$ tem determinante -1. Logo não existe nenhuma matriz B tal que B2000=-I.


Para o item (a) argumentamos como segue. Como a matriz A é simétrica é diagonalizável. Seja D uma forma diagonal de A,

\begin{displaymath}D=
\left(
\begin{array}{ccc}
a &0 &0\\
0&b& 0\\
0 & 0& c
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Como vimos em sala de aula,

\begin{displaymath}D^m=
\left(
\begin{array}{ccc}
a^m &0 &0\\
0&b^m& 0\\
0 & 0& c^m
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Escreva A=P D P-1. Observe que Am=P Dm P-1(como também vimos na aula). Faça m=2001. Logo

\begin{displaymath}-I = A^{2001}= P \, D^{2001} \, P^{-1},
\quad
-I = P \, D^{2001} \, P^{-1}.
\end{displaymath}

Multiplicando as duas expressoes á esquerda por P-1 e à direita por P,

\begin{displaymath}-(P^{-1}\, I \, P) =( P^{-1} \, P) \, D^{2001}\, ( P^{-1} \, P),
\quad
-I =D^{2001}.
\end{displaymath}

Logo

\begin{displaymath}-1=a^{2001},
\quad
-1= b^{2001},
\quad
-1 =c^{2001}.
\end{displaymath}

A única solução é a=b=c=-1. Ou seja D=-I e

\begin{displaymath}A=P\, D \, P^{-1}= P \, (-I) \, P^{-1}=- (P \, P^{-1})=-I.
\end{displaymath}

Logo A é menos a identidade.


A resposta para o item (c) é negativa, considere por exemplo a matriz

\begin{displaymath}C=
\left(
\begin{array}{ccc}
0 &0 &0\\
0&0& 0\\
1 & 0& 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Observe que

\begin{displaymath}C^2 =C \, C =
\left(
\begin{array}{ccc}
0 &0 &0\\
0&0& 0\\
...
...{array}{ccc}
0 &0 &0\\
0&0& 0\\
0 & 0& 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Logo $C^3=C^2\, C=0\, C=0$. Analogamente, C4=C5=0 e C é não nula.



 
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Lorenzo J. Diaz
2001-11-26