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P2 de Álgebra Linear I - 2002.1
Data: 4 de maio de 2002.

Gabarito

1) Decida se cada afirmação a seguir é verdadeira ou falsa e marque com caneta sua resposta no quadro abaixo. Atenção: responda todos os itens, use "N = não sei" caso você não saiba a resposta. Cada resposta certa vale 0.3, cada resposta errada vale -0.2, cada resposta N vale 0. Respostas confusas e ou rasuradas valerão -0.2.

1.a) Seja P uma transformação linear de $\mathbb{R} ^2$ tal que $P^2=P\circ P=P$, então P é uma projeção ortogonal.

Falso: Por exemplo considere P sendo a identidade.



1.b) Considere vetores v, y e w de $\mathbb{R} ^3$linearmente dependentes. Então existem números reais $\sigma$ e $\lambda$tais que $v=\sigma y +\lambda w$.


Falso: É suficiente considerar vetores y e w colineares e v qualquer vetor não paralelo a y e w. Os vetores são l.d. e v não pode ser escrito como combinação linear de y e w. Por exemplo, considere os vetores v=(1,1,1), y=(1,0,1) e w=(2,0,2).



1.c) Seja $P\colon \mathbb{R} ^3
\to \mathbb{R} ^3$ uma projeção ortogonal em um plano e $E\colon \mathbb{R} ^3\to \mathbb{R} ^3$ um espelhamento em um plano. Então $E\circ P\colon \mathbb{R} ^3\to \mathbb{R} ^3$ é uma projeção ortogonal.


Falso: É suficiente considerar uma projeção e um espelhamento em planos diferentes. Por exemplo, sejam P a projeção ortogonal no plano z=0 e E o espelhamento no plano y=0. As matrizes de E e P são

\begin{displaymath}P=
\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0 & 1&0\\
0 &0&0
\e...
...array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0 & -1&0\\
0 &0&1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

A composição $E\circ P$ tem como matriz

\begin{displaymath}A=
\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0 & -1&0\\
0 &0&0
\end{array}\right),
\end{displaymath}

que não representa uma projeção, pois

\begin{displaymath}A^2=
\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
0 & 1&0\\
0 &0&0
\end{array}\right)\ne A.
\end{displaymath}



1.d) Sejam $\pi_1$, $\pi_2$ e $\pi_3$ três planos de $\mathbb{R} ^3$contendo a origem e P1, P2 e P3 as respetivas projeções ortogonais nestes planos. Suponha que $P_3\circ P_2\circ P_1$ é a transformação linear nula. Então os planos se interceptam em um ponto.


Verdadeiro: Se se interceptaram em mais de um ponto a interseção conteria uma reta r contendo a origem. Seja $v\ne \bar 0$ o vetor diretor da reta r. Como v pertence a todos os planos, P1(v)=P2(v)=P3(v)=v. Logo $P_3\circ P_2\circ P_1(v)=v\ne \bar 0$, e a transformação é diferente da transformação nula.



1.e) Dada uma base $\beta=\{u,v,w\}$ de $\mathbb{R} ^3$ considere a nova base $\gamma=\{u+v+w,u+v,u+w\}$ de $\mathbb{R} ^3$. Considere o vetor h cujas coordenadas na base $\beta$ são (1,1,1). Então as coordenadas de h na base $\gamma$ são (1/3,2/3,1/3).


Falso: Se as coordenadas de h na base $\gamma$ fossem (1/3,2/3,1/3)teriamos

h=1/3(u+v+w)+2/3(u+v)+1/3(u+w)= 4/3u+v+2/3w.

Logo as coordenadas de h na base $\beta$ seriam $(4/3,1,2/3)\ne (1,1,1)$, o que fornece uma contradição.

1.f) A matriz

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &a\\
1 & 1 &2\\
1 &1&1
\end{array}\right)
\end{displaymath}

é sempre inversível (independentemente do valor de a).


Verdadeiro: O determinante da matriz é independente de a e vale -1, logo a matriz é sempre inversível (tem determinante não nulo).

1.g) Seja A uma matriz $2\times 2$ inversível. Suponha que A2=2 A. Então $\det A=2$.


Falso: Como o determinante do produto é igual ao produto dos determinantes e A2=(2I)A (I a matriz identidade), temos

\begin{displaymath}\det (A)=
\det (2I)=
\left\vert
\begin{array}{cc}
2 & 0\\
0 & 2
\end{array}\right\vert=
2\cdot 2=4\ne 2.
\end{displaymath}



1.h) Existe uma projeção ortogonal $P\colon \mathbb{R} ^3
\to \mathbb{R} ^3$tal que P(1,1,2)=(0,1,1).


Falso: Caso existisse, teriamos que

(1,1,2)=(0,1,1)+n,

onde n é ortogonal a (0,1,1). Mas, n=(1,0,1) que não é ortogonal a (0,1,1)(veja que $(1,0,1)\cdot (0,1,1)=1\ne 0$).



1.i) Existe uma transformação linear $T\colon \mathbb{R} ^3\to \mathbb{R} ^2$tal que T(1,0,0)=(1,1), T(1,1,0)=(1,1), T(1,1,1)=(1,1).


Verdadeiro: Uma transformação linear definida em $\mathbb{R} ^3$está determinada pelas imagens de três vetores l.i., como é o caso. De fato, a matriz de T é


\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 0 &0\\
1 & 0 &0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Verifique (aplique a matriz aos vetores (1,0,0), (1,1,0) e (1,1,1)e veja que o resultado sempre é o vetor (1,1)).

Itens V F N  
1.a   F    
1.b   F    
1.c   F    
1.d V      
1.e   F    
1.f V      
1.g   F    
1.h   F    
1.i V      

2) Estude quais das matrizes

2.a)

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 1 &1\\
1 & 1 &1\\
1 & 1 & 1
\end{array}\right),
\end{displaymath}

2.b)

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{cc}
2 & -1\\
2 & -1
\end{array}\right),
\end{displaymath}

representam uma projeção (ortogonal ou não) ou um espelhamento.

Resposta: Para o item (2.a) observe que

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
1 & 1 &1\\
1 & 1 &1\\
1 & 1 & 1
\...
...ay}{ccc}
1 & 1 &1\\
1 & 1 &1\\
1 & 1 & 1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Como P2= P é uma condição necessária para representar uma projeção, a resposta é que P não representa uma projeção.

Também sabemos que não representa um espelhamento: seu determinante é nulo (e um espelhamento tem determinante não nulo).


Para o item (2b) veja que a matriz tem determinante nulo, logo não pode representar um espelhamento. Para ver se representa uma projeção vemos que

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{cc}
2 & -1\\
2 & -1
\end{array}\right)
...
...
\left(
\begin{array}{cc}
2 & -1\\
2 & -1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Logo, a priori, pode ser uma projeção. Em tal caso, P(i) e P(j) devem pertencer à reta de projeção. Logo a reta de projeção deverá ser (t,t), $t\in \mathbb{R} $. Em tal caso, deveriamos ter P(1,1)=(1,1)(o que acontece, verifique).

Os vetores paralelos à direção de projeção devem verificar P(x,y)=(0,0). Para determinar esta direção resolvemos o sistema

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{cc}
2 & -1\\
2 & -1
\end{array}\right)
...
...eft(
\begin{array}{c}
x\\ y
\end{array}\right),
\qquad
2x-y=0.
\end{displaymath}

Logo a direção de projeção é (1,2). A resposta é: a matriz representa uma projeção na reta (t,t), $t\in \mathbb{R} $, na direção do vetor (1,2).

3) Considere a projeção Pno plano $\pi\colon x+y-z=0$ na direção do vetor (1,-1,-1).



3.a) Considere o vetor u=(4,-1,1)=(2,-2,-2)+(2,1,3)(onde $(2,1,3)\in \pi$). Sem determinar a matriz de P, calcule P(u).



3.b) Determine a matriz de P.



3.c) Sejam M a projeção ortogonal na reta (t,-t,-t) e N a projeção ortogonal no plano $\pi\colon x-y-z=0$. Determine as matrizes de M e N.



3.d) Determine as matrizes de $P\circ M$ e $M\circ P$.

Resposta: Para o primeiro item observe que P(2,-2,-2)=0 (pois (2,-2,-2) é paralelo à direção de projeção) e que P(2,1,3)=(2,1,3) (pois (2,1,3) pertence ao plano de projeção). Logo, como P é linear,

P(u)=P(4,-1,1)=P(2,-2,-2)+P(2,1,3)= (2,1,3).

Para determinar a matriz de P escolhemos uma base de $\pi$(por exemplo (1,0,1) e (0,1,1)) e acrescentamos o vetor (1,-1,-1) para obter uma base de $\mathbb{R} ^3$. Para cada vetor v escrevemos

v=x(1,0,1)+y(0,1,1)+z(1,-1,-1).

Então, pelos argumentos do primeiro item, temos,

P(v)=x(1,0,1)+y(0,1,1).

Temos,

(1,0,0)=x(1,0,1)+y(0,1,1)+z(1,-1,-1).

Logo,

\begin{displaymath}1=x+z,
\quad
0=y-z,
\quad
0=x+y-z.
\end{displaymath}

Logo x=0, z=1 e y=1. Portanto,

P(1,0,0)=(0,1,1).

Analogamente,

(0,1,0)=x(1,0,1)+y(0,1,1)+z(1,-1,-1).

Logo

\begin{displaymath}0=x+z,
\quad
1=y-z,
\quad
0=x+y-z.
\end{displaymath}

Logo x=-1, z=1 e y=2. Portanto,

P(0,1,0)=(-1,2,1).

Finalmente,

(0,0,1)=x(1,0,1)+y(0,1,1)+z(1,-1,-1).

Logo

\begin{displaymath}0=x+z,
\quad
0=y-z,
\quad
1=x+y-z.
\end{displaymath}

Logo x=1, z=-1 e y=-1. Portanto,

P(0,0,1)=(1,-1,0).

A matriz de P é

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
0 & -1&1\\
1 & 2 &-1\\
1& 1 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Para o terceiro item observe que M+N=Id. O vetor diretor unitário na direção da reta de projeção de M é $v=(1/\sqrt{3}, -1/\sqrt{3}, -1/\sqrt{3})$. Portanto,

\begin{displaymath}M(u)=(u\cdot v) v.
\end{displaymath}

Logo

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
M(1,0,0)&=
(1/3,-1/3,-1/3),
\\
M(0,1,0)&=M(0,0,1)=
(-1/3,1/3,1/3).
\end{array}\end{displaymath}

Portanto,

\begin{displaymath}M=
\left(
\begin{array}{ccc}
1/3 & -1/3&-1/3\\
-1/3 & 1/3 &1...
...}{ccc}
1 & -1&-1\\
-1 & 1 &1\\
-1& 1 & 1
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Finalmente,

\begin{displaymath}N=Id-M, \quad
N=
\left(
\begin{array}{ccc}
2/3 & 1/3&1/3\\
1/3 & 2/3 &-1/3\\
1/3& -1/3 & 2/3
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Para o último item observamos que a matriz de $P\circ M$ é:

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
0 & -1&1\\
1 & 2 &-1\\
1& 1 & 0
\...
...array}{ccc}
0 & 0&0\\
0 & 0 &0\\
0& 0& 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

De fato, não é necessário fazer cáculos. Considere uma base $\{e,f,v\}$, onde v é a direção de projeção de P(e ao mesmo tempo o vetor da reta de projeção de M) e e e f são vetores paralelos ao plano de projeção de P. Temos $M(e)=\sigma v$ e $M(f)=\lambda v$. Logo

\begin{displaymath}P\circ M(e)=
\sigma P(v)=\bar 0,
\quad
P\circ M(f)=\lambda P(v)=
\bar 0.
\end{displaymath}

Respeito ao vetor v, M(v)=v e $P(M(v))=P(v)=\bar 0$. Como $P\circ M$ transforma os elementos da base no vetor zero, temos que $P\circ M$ é transformação linear nula.

Para calcular a matriz de $M\circ P$ escrevemos

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
\left(
\begin{array}{ccc}
1/3 & -1/3&-1/3\\...
... & 4/3 &-2/3\\
2/3& 4/3 & -2/3
\end{array}\right).
\end{array}\end{displaymath}

4) Seja $\beta$ a base formada pelos vetores $\{(1,1,1),(1,0,1), (0,1,1)\}$.

4.a) Verifique que $\beta$ é uma base.

4.b) Determine as coordenadas do vetor v=(1,2,3) na base $\beta$.



4.c) Seja
S a transformação linear definida por

\begin{displaymath}S(u)=u\times (1,1,1).
\end{displaymath}

Calcule a matriz deS.



4.d) Determine se a matriz de S é inversível e em caso afirmativo determine sua inversa.

Resposta: Para o item (a) é suficiente ver que o determinante cujas colunas são os vetores da base é não nulo:

\begin{displaymath}\left\vert
\begin{array}{ccc}
1 & 1& 0\\
1& 0 &1\\
1& 1 & 1
\end{array}\right\vert= 1(0-1)-1(1-1)+0(1-0)=-1\ne 0.
\end{displaymath}


Para determinar as coordenadas do vetor (1,2,3) escrevemos

(1,2,3)=x(1,1,1)+y(1,0,1)+z(0,1,1).

Logo,

\begin{displaymath}1=x+y,
\quad
2=x+z,
\quad
3=x+y+z.
\end{displaymath}

Escalonando obtemos:

\begin{displaymath}1=x+y,
\quad
1=-y+z,
2=z.
\end{displaymath}

Logo z=2, y=1 e x=0. As coordenadas do vetor na base $\beta$ são (0,1,2)


Para determinar a matriz de S observe que

\begin{displaymath}\begin{array}{ll}
S(1,0,0)&=
(1,0,0)\times (1,1,1)=(0, -1,1),...
...),\\
S(0,0,1)&=
(0,0,1)\times (1,1,1)=(-1, 1,0).
\end{array}.
\end{displaymath}

Logo a matriz de S é

\begin{displaymath}\left(
\begin{array}{ccc}
0 & 1& -1\\
-1& 0 &1\\
1& -1 & 0
\end{array}\right).
\end{displaymath}

Finalmente S não é inversível. Isto pode ser visto calculando o determinante da matriz de S e vendo que é zero. Mas nem é necessário fazer cálculos, os vetores S(1,0,0), S(0,1,0) e S(0,0,1) são coplanares (e portanto seu produto misto, igual ao determinante, é nulo): todos estes vetores são (por definição) ortogonais a (1,1,1), logo estão no plano x+y+z=0.


 
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Lorenzo J. Diaz
2002-05-04