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Paradoxo de Richard
Ol� Bruno, !
G�del admite explicitamente que a sua argumenta��o � modelada por uma das
mais conhecidas antinomias logicas, o paradoxo de Richard. Este paradoxo,
proposto pelo matem�tico Jules Richard em 1905, pode ser enunciado como
segue:
1) imagine que todas as propriedades dos numeros cardinais s�o enunciadas
num idioma qualquer.( ex portugues )
2) Ordene estas propriedades da menos extensa (com menos letras, ) para a
mais extensas ( com mais letras)
3) Se duas ou mais propriedades tem a mesma extens�o, adote a classifica��o
alfabetica
Assim, fica associado um n�meor a cada propriedade. Se o numero associado a
uma determinada propriedade tiver ele mesmo esta propriedade, dizemos que o
n�mero � "N�o Richardiano"; se o n�mero associado a uma determindade
propriedade n�o tiver ele mesmo esta propriedade, dizemos que o n�mero "�
Richardiano" .
Ex: Suponhamos, por exemplo, que "N�o ser divisivel por nenhum n�mero a n�o
ser por si mesmo e pela unidade" seja a 17 propriedade. Como 17 �, ele
mesmo, primo, dizemos que 17 n�o � Richardiano. Se, porem, 17 estivesse
associado a propriedade "ser divis�vel por 5" e, claramente, 17 n�o �
divisivel por 5, ent�o 17 seria Richardiano.
Aqui entra o fundamental. A propriedade "ser richardiano" pode ser associado
a todo n�mero, vale dizer, ou um numero � richardiano ou n�o richardiano.
Assim, a propriedade pertence a lista que construimos com os passos 1), 2),
3). Seja N o numero associado a esta propriedade. Pergunda : N �
Richardiano ? Claramente, N ser� richardiano se, e somente se, N tem a
propriedade de ser Richardiano !!!!!!!!!!!
Este paradoxo, como muitos outros paradoxos l�gicos, � em verdade um
engodo... Uma hipotese implicita em nosso raciocinio � que enumerariamos
"propriedades aritmeticas". Ser Richardiano n�o � uma propriedade
aritm�tica, mas meta-aritmetica, por falar sobre propriedades e n�o numeros
e suas rela��es, da� o paradoxo.
O que Godel percebeu foi que se pudesse evitar o embuste implicito no
paradoxo de Richard ele poderia falar de propriedades de numeros usando
n�meros. E ent�o tudo ficaria muito mais f�cil. Nisso consistiu sua id�ia
b�sica. O que acima aparece como "N � Richardiano ou n�o", na prova de Godel
surgira como "A aritm�tica � consistente".
A outra parte do trabalho de Godel n�o foi genial, foi apenas inteligente e
dependente de cultura, vale dizer, ele conseguiu formular um mapeamente das
propriedades aritmeticas que escapa ao embuste intrinseco ao paradoxo
richardiano. O resto � facil.
� importante assinalar que muitas pessoas tem uma vis�o errada do que Godel
realmente provou. Ele n�o provou, a principio, que a consistencia da
aritmetica jamais sera demonstrada: mostrou que esta possibilidade �
altamente improv�vel. Mostrou que com os recursos internos do sistema �
impossivel provar a consistencia, vale dizer, precisariamos lan�ar m�o de
principios externos cuja validade seria t�o dubia quanto a propria
consistencia. Por outro lado, muitos esquecem que consistencia , no modelo
de Godel , esta diretamente associada a completeza: Um sistema formal �
completo se todas as afirma��es sobre os seus objetos puderem ser provados
com os metodos de inferencia do proprio sistema. No quadro de Godel, se a
aritmetica fosse consistente, ela seria incompleta e, se fosse completa,
seria inconsistente.
Existe muitos bons livros de divulga��o sobre esse tema. Posso citar, de
cabe�a, os seguintes: "A prova de Godel", de James Newman - editora
perspectiva. "O teorema de Godel e a hipotese do contnuo", funda��o
Karlousse Gubergian. N�o conhe�o tradu��o do 2, mas o primeiro existe em
portugues.
Noto que temas relacionados a logica tem despertado muito interesse nos
frequentadores desta lista. Existe muitos temas relacionados de interesse.
Vou citar alguns:
Tese de Church : "A todo procedimento efetivo (algoritmo) corresponde uma
maquina de turing"
Este principio � muito importante porque o numero de evidencias que o
corroboram � muito grande. Num determinado sentido � como se estivessemos
falando que toda atividade mecanica pode ser mapeada numa entidade abstrada,
a maquina de turing. Segue, a priori, que se mostramos que n�o existe uma
maquina de turing que descreva um determinado processo ent�o jamais
encontraremos um algoritmo que descreva tal processo. Sera que estes
procedimentos s�o as atividades que, h� muitos anos, os filosofos chamam de
atividades "dialeticas" ? Sera que aqui se come�a a vislumbrar a verdadeira
"humanidade" do homem, vale dizer, aquilo que poderemos fazer e em que n�o
poderemos ser substituidos pelas maquinas ? S�o quest�es interessantes !
por outro lado, 90% das atividades humanas ( fun�oes rotineiras e
operacionais - pense na atividade de um advogado .... !!!!) s�o algoritmicas
ou podem ser algoritmizadas.
Deixo para os mestres que frequentam esta sala falar um pouco sobre os
conceitos correlatos de "numero computavel", " maquina de turing universal e
os computadores modernos" etc Tenho certeza que a turma vai gostar muito de
saber sobre estes temas.
Alguem j� ouviu falar sobre o jogo "vida" ? E sobre os resultados das
pesquisas em "vida artificial" ?
Um forte abra�o
Paulo Santa Rita
1,2002,200699
>From: "Dopelg�nger" <paleo@jpnet.com.br>
>Reply-To: obm-rj@mat.puc-rio.br
>To: <obm-rj@mat.puc-rio.br>
>Subject: Re: Kurt G�del
>Date: Sun, 29 Aug 1999 21:53:03 -0300
>Qual o paradoxo de Richard?
>
><Bruno>
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