[Date Prev][Date Next][Thread Prev][Thread Next][Date Index][Thread Index]
RES: [obm-l] Vamos tentar pensar diferente?
Oi Nehab,
Sem d�vida nenhuma, a sua argumenta��o faz sentido. O IME � uma escola de
engenharia, n�o um instituto de matem�tica.
N�s desta lista, que temos prazer em estudar matem�tica, devemos, por�m,
considerar que v�rios assuntos aqui discutidos podem n�o ser mesmo
essenciais para um engenheiro (ali�s, eu sou engenheiro). � um fato que a
maior parte dos engenheiros nao aprecia este lado mais formal da matematica,
este lado mais abstrato e nao se preocupam tanto com formalismos.
Por exemplo, a grande maioria dos engenheiros trabalha com fun��es, mas
poucos sabem definir formalmente o que � limite ou continuidade. Poucos
sabem dar a definicao epsilon/delta, embora a maioria tenha um conceito
intuitivo correto do que limite e continuidade significam. Isto nao eh
critica, apenas consequencia das prioridades de um engenheiro.
Isto para nos pode ser um tanto frustrante, principlamente para quem gosta
de Analise, parte da matematica que lida com conceitos que muitos
consideram, assim, um tanto "fosforicos", como definicoes rigorosas de
integral. Por isso, devemos aceitar que nem todos (alias, muito poucos) se
interessam em saber se existem funcoes continuas soh nos racionais, se
existem ou nao uma infinidade de numeros perfeitos, etc. Eu mesmo, hah pouco
tempo, enviei uma mensagem sobre metrica induzindo a topologia discreta. Por
mais interessante que isso me pareca, devo aceitar que poucos vao apreciar
tais detalhes e que um engenheiro nao tem mesmo que conhecer isso para ser
competente.
Eu, por exemplo, por por motivos profissionais, conheco alguma coisa sobre a
legislacao do setor eletrico brasileiro. Mas me restrinjo � parte
relacionada ao meu trabalho. Tenho, por�m, um colega advogado que se deleita
analisando a legisla��o, entrando em aspectos que poucas pessoas conhecem.
Ele n�o se interessa por matematica, mas respeita o meu interesse, assim
como respeito o interesse dele por aspectos legais em que n�o pretendo me
aprofundar.
Assim eh a vida, e a direcao do IME deve ter seus motivos. Os quais, eh
claro, em nada impedem que aqui continuemos a nos preocupar com o que nos
interessa e nos dah satisfacao.
Artur
-----Mensagem original-----
De: owner-obm-l@mat.puc-rio.br [mailto:owner-obm-l@mat.puc-rio.br]Em
nome de Carlos Eddy Esaguy Nehab
Enviada em: quinta-feira, 26 de outubro de 2006 10:21
Para: obm-l@mat.puc-rio.br
Assunto: [obm-l] Vamos tentar pensar diferente?
Oi, gente,
� interessante perceber a frustra��o geral (aqui e alhures...) com
rela��o � prova discursiva de Matem�tica do IME. Entretanto,
descontados os exageros (at� justific�veis) dos julgamentos emitidos
ainda no decorrer do "susto", gostaria de meter o meu bedelho nesta
hist�ria, pois fiz e fa�o parte dela.
Mas para evitar que algu�m de forma talvez afoita pense em "quem �
este idiota com esta opiniao maluca", aqui v�o minhas credenciais
(pois infelizmente �s vezes a gente tem que apresentar as credenciais
- � assim que o mundo funciona; desta forma poder�o me esculhambar ou
contra-argumentar com conhecimento do interlocutor).
Fui aluno civil do IME (1965/69 - segunda turma de civis - El�trica),
professor durante v�rios anos do B�sico, com passagens na El�trica, e
na p�s de Nuclear - se � que n�o esquec� alguma coisa (ah, isso h�
mais ou menos 30 anos...). Participei de forma relevante na banca
de matem�tica de 1972 onde sem d�vida "erramos a m�o", com uma prova
muito dif�cil para a �poca. Tamb�m fui "vedete" de Vestibular
durante alguns anos muito felizes da minha vida, onde tive a honra e
prazer de ser professor (no vestiba e no IME) de algumas cabe�as
geniais que habitam esta lista e de outras que n�o a habitam mas s�o
tamb�m geniais e respeitados professores e profissionais do
mercado. E nos ultimos anos tenho atuado em consultoria em
Inform�tica e ainda, de vez em quando espero cada vez mais), no
magist�rio em Matem�tica (minha alucinada, incompreens�vel e
tresloucada paix�o).
Dito isto, vamos l�, embora caiba ressaltar que n�o tenho procura��o
de ningu�m para falar em nome do IME: falo exclusivamente em meu
pr�prio nome. Al�m disso, ressalto que num primeiro momento (e
confesso, num segundo momento tamb�m) fiquei desapontado. Mas
talvez pela idade :-) aprendi a ser menos afoito em meus julgamentos
(quem me conheceu quando jovem nem vai acreditar nisto...).
Vejamos alguns aspectos que resolvi colocar "na minha pr�pria mesa"
para reflex�o, considerando que minimamente parto da premissa que a
banca obviamente SABE que concebeu provas bem mais f�ceis que as dos
anos anteriores e que, convenhamos, dificilmente isto aconteceu por
acaso ou incompet�ncia.
Alguns Fatos (discut�veis ou n�o, mas minha cren�a)
1: O IME � uma escola de engenharia, n�o um instituto de matem�tica
(nem pura nem impura) - cuidado com os pr�prios f�gados e egos - n�o
� nada pessoal...:-);
2: Um alto percentual de ex-alunos do IME sabidamente N�O segue a
carreira de engenharia (raz�o da exist�ncia da Institui��o), mas de
matem�tica, economia, magist�rio, m�sica :-), etc.).
3: A prepara��o para o IME j� est� h� alguns anos adquirindo
contornos no m�nimo discut�veis: qual quest�o dos livros do fulano ou
sicrano vai cair este ano? Muitas vezes a forma��o mais conceitual
dos alunos � substitu�da por excesso de adestramento, em listas
intermin�veis de problemas de matem�tica. V�-se crescente a
competi��o entre as institui��es preparat�rias e os egos dos
professores, ao inv�s da forma��o adequada e competi��o sadia entre
os alunos candidatos.
4: Os alunos com melhor desempenho em Matem�tica n�o se tornam,
necessariamente, os melhores emprendedores e engenheiros;
5: A prova N�O foi banal, como v�rias pessoas o imaginam. Minha
experi�ncia em processos de sele��o (dezenas) me autorizam a afirmar
que o desvio padr�o foi bem maior do que a maioria imagina. Podemos
fazer at� umas apostinhas...:-)
6: H� muito tempo me pergunto se a prova de matem�tica deve ser o
elemento determinante do acesso ao IME e ter o "ibope" que tem tido.
Por fim, gostaria de colocar na mesa se o papel dos que admiram a
institui��o n�o deveria ser a proposi��o de outras formas de definir
o acesso � mesma, ao inv�s de apenas reclamarmos por simples
saudosismo ou com saudades da mesmice.
Eu, particularmente, tenho pensado se uma prova de Ci�ncias
(Matem�tica, F�sica e Qu�mica), onde seriam propostos problemas do
mundo real (onde atua o ENGENHEIRO), n�o seria mais eficaz. A
linha que imagino, que n�o possui nenhum pioneirismo, seria uma
adapta��o do que na vida real um engenheiro enfrenta e segue, por
exemplo, a linha de trabalho do genial ex-mestre do IME de F�sica, o
professor Helcio. Nos dias que antecediam a prova, ele exibia uma
"miniatura" na mesa dele sobre o tema da prova, e n�s pens�vamos em
problemas reais relacionados com o tal tema: um submarino, um
foguete, um sputinik :-), etc. Obviamente ele colocava na prova
quase uma centena de dados absolutamente in�teis para a solu��o dos
problemas propostos (como s�i acontecer no mundo real).
Sintetizando: ser� que n�o estava na hora, num mundo com a educa��o
ainda equivocadamente t�o compartimentada, o IME tentar processos
seletivos de fato multidiscipinares, mais aderentes ao mundo
real? (meu doutorado na PUC � em Educa��o Tecnol�gica, uma linha de
trabalho que une os departamentos de Eletricidade, Educa��o e
Psicologia...; as discuss�es ficam muito, mas muito ricas, quando a
gente junta pessoas interessantes, com forma��es e experi�ncias
diferentes em v�rias �reas de conhecimento... Sai da mesmice).
Para finalizar, algumas perguntas que me ocorriam enquanto escrevia
este email: Newton era matem�tico, astr�nomo, fil�sofo ou
f�sico? Einstein era matem�tico, f�sico, astr�nomo ou
fil�sofo? Prigogine era qu�mico ou matem�tico? Russel era matem�tico
ou fil�sofo? Chomsky � matem�tico, ling�ista, fil�sofo ou pol�tico
engajado? Paul Levy (professor de Mandelbrot) foi matem�tico, f�sico
ou quimico? Dewey foi fil�sofo, pedagogo ou psic�logo? Withehead
foi fil�sofo, l�gico, matem�tico, f�sico ou pedagogo? Pois �....
Nehab
=========================================================================
Instru��es para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/olimp/obm-l.html
=========================================================================
=========================================================================
Instru��es para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~nicolau/olimp/obm-l.html
=========================================================================